As terapêuticas de
reversão são sessões de tortura psicológica para impor pontos de vista morais e
religiosos a pessoas que estão fragilizadas.
Uma das listas à direção
do Conselho Federal de Psicologia, a ordem dos psicólogos brasileira, queria
revogar a proibição de psicólogos curarem homossexuais. Composta por psicólogos
ligados a igrejas evangélicas, contou com o apoio de Damares Alves, declarado
num encontro para apresentar o Movimento Ex-Gays do Brasil. Ficou em último lugar de cinco concorrentes. Mas 5% dos
psicólogos brasileiros votaram em colegas que defendem a reconversão de
homossexuais.
A caução científica ainda é importante para o discurso
ultraconservador. Como é impossível usar instrumentos científicos para
transformar o pecado em patologia, a estratégia tem sido a oposta: cria-se a
ideia de que a comunidade científica está dominada por correntes ideológicas
radicais. Curiosamente, são os mesmos que tentam convencer homossexuais a
deixarem de o ser, usando para isso psicólogos desonestos, que depois tratam o
mero respeito pela identidade de género ou orientação sexual do outro como uma
intolerável imposição de modos de vida a todos.
No ataque à ciência e a alguns consensos civilizacionais
mínimos, o objetivo ainda não é transformar absurdos terapêuticos ou posições
de intolerância radical perante minorias em posições maioritárias. É criar uma
equivalência entre as suas posições e aquelas que combatem. Tudo é “ideologia”
e todas as ideologias estão no mesmo patamar. Perante elas, as autoridades científicas
e as instituições públicas devem manter-se neutrais. O discurso religioso tem a
mesma validade que o discurso científico e a intolerância e a tolerância são
dois pontos de vista com o mesmo valor democrático.
O ultraconservadorismo ainda não está a tratar da tomada do
poder, apesar de usar o poder de Estado para a sua estratégia. Está a minar os
consensos científicos e civilizacionais da modernidade para os destruir. E,
sobre as suas ruínas, reerguer um poder teocrático, confessional e necessariamente
autoritário.
Só que a liberdade deles acaba onde começa a destruição da de
todos nós. Se perdermos este combate recuaremos uns séculos na história. Não há
espaço de tolerância perante os intolerantes.
Daniel Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário