quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Os psicólogos dos ex-gays




As terapêuticas de reversão são sessões de tortura psicológica para impor pontos de vista morais e religiosos a pessoas que estão fragilizadas.

Uma das listas à direção do Conselho Federal de Psicologia, a ordem dos psicólogos brasileira, queria revogar a proibição de psicólogos curarem homossexuais. Composta por psicólogos ligados a igrejas evangélicas, contou com o apoio de Damares Alves, declarado num encontro para apresentar o Movimento Ex-Gays do Brasil. Ficou em último lugar de cinco concorrentes. Mas 5% dos psicólogos brasileiros votaram em colegas que defendem a reconversão de homossexuais.

A caução científica ainda é importante para o discurso ultraconservador. Como é impossível usar instrumentos científicos para transformar o pecado em patologia, a estratégia tem sido a oposta: cria-se a ideia de que a comunidade científica está dominada por correntes ideológicas radicais. Curiosamente, são os mesmos que tentam convencer homossexuais a deixarem de o ser, usando para isso psicólogos desonestos, que depois tratam o mero respeito pela identidade de género ou orientação sexual do outro como uma intolerável imposição de modos de vida a todos.

No ataque à ciência e a alguns consensos civilizacionais mínimos, o objetivo ainda não é transformar absurdos terapêuticos ou posições de intolerância radical perante minorias em posições maioritárias. É criar uma equivalência entre as suas posições e aquelas que combatem. Tudo é “ideologia” e todas as ideologias estão no mesmo patamar. Perante elas, as autoridades científicas e as instituições públicas devem manter-se neutrais. O discurso religioso tem a mesma validade que o discurso científico e a intolerância e a tolerância são dois pontos de vista com o mesmo valor democrático.

O ultraconservadorismo ainda não está a tratar da tomada do poder, apesar de usar o poder de Estado para a sua estratégia. Está a minar os consensos científicos e civilizacionais da modernidade para os destruir. E, sobre as suas ruínas, reerguer um poder teocrático, confessional e necessariamente autoritário.

Só que a liberdade deles acaba onde começa a destruição da de todos nós. Se perdermos este combate recuaremos uns séculos na história. Não há espaço de tolerância perante os intolerantes.

Daniel Oliveira

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