domingo, 15 de outubro de 2017

Encontros na net? É nos “entas”!




O número de “mensagens na garrafa” atiradas ao mar dos algoritmos aumenta a partir da meia idade, sugerem os primeiros estudos sobre os perfis dos frequentadores de sites e apps

“Procuro alguém para amizade ou algo mais”. O “mais” pode ser curtir, viajar ou amar, ou todos ao mesmo tempo. E se um dia um adolescente se cruzar com o avô ou a avó num site de encontros ou numa das apps da moda, isso é … o novo normal. Desengane-se pois, quem pensa que os chamados “seniores”, “cotas” e outros termos pouco empáticos só circulam nas plataformas concebidas especificamente para “frequentadores com a idade deles”.
Quem cresceu nos anos coloridos da revolução sexual – “faz amor e não a guerra” – e transpôs a fronteira dos “entas”, experimenta agora os prazeres da longevidade e sente-se capaz de ir, não para o céu, mas para todo o lado, sem vergonhas nem justificações e, menos ainda, sem ser no registo clandestino. Isto é algo que outras gerações nunca souberam o que era, dada a menor esperança de vida e o facto de não existirem tecnologias digitais (para quem se lembra, só havia o slogan publicitário da lista telefónica, “vá pelos seus dedos”).
Num artigo publicado na revista Psychology Today, em 2013, faz-se referência a um inquérito sobre o uso de sites de encontros onde “os adultos com 60 ou mais anos representam o segmento de utilizadores que mais cresceu nos últimos anos”.
Este grupo etário parece render-se aos serviços de encontros com o mesmo fascínio que Aladino tinha diante da lanterna mágica:
- Usam, com frequência, a palavra escrita no espaço dedicado à apresentação ou perfil nos serviços que usam questionários de compatibilidade, mas também nas apps, baseadas quase exclusivamente na imagem.
- Mais vezes do que menos, vão além do “embrulho” visual, que impera nas apps que estão em voga (e não faltam candidatos a empreendedores a querer lançar mais uma no mercado, assim consigam o financiamento necessário).
- Raramente se inscrevem apenas ”porque é onde toda a gente está”. E se não sabem, pelo menos aparentam saber o que querem e ao que vão, ou seja, o que desejam ou esperam encontrar num(a) parceiro(a).
- Abundam as faixas de música e as citações, jocosas ou sérias, em função do que se procura: sexo casual, relação de curta ou longa duração, amizades e/ou algo mais. Um clássico de muitos cartões de visita: “Universidade da vida” (nas habilitações).
Segundo as estatísticas demográficas, metade das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos estão separadas, divorciadas ou viúvas (sem contar com as solteiras). Em Portugal, representam mais de um quarto da população residente (26%), com um valor superior a dois milhões e meio de pessoas. E o que querem eles, o alvo apetecível para os “casamenteiros” profissionais da era digital? “Companheirismo” é o termo que mais aparece nos estudos que analisam os conteúdos dos perfis destes novos protagonistas que conquistaram o direito de serem felizes à sua maneira.
“Ainda loucos, ao fim destes anos todos”
Quando já se tem estrada feita e sobra energia para mais, cada minuto bem vivido é um minuto ganho. Cada um diz ao que vem e , à semelhança do que sucede nas faixas etárias mais jovens, há de tudo para todos os gostos: adeptos de estilos de vida não monogâmicos, viajantes profissionais simpatizantes do sexo casual, mesmo que o apelidem de “novas amizades” e candidatos a exercitar práticas sexuais minoritárias, mas não menos interessantes, em nome do auto-conhecimento. No essencial, continua a querer-se sexo, amor e tudo o que caiba entre eles, só que agora esse desejo tem rosto e dá-se a conhecer ao mundo, sem sombra de pecado.
Alguns excertos de mensagens “enviadas na garrafa” para o oceano digital:
- Mulher, 62 anos: “Sou uma pessoa descontraída e capaz de ser intensa. Se te consideras uma pessoa interessante e auto-confiante, leste com atenção o meu perfil e gostaste, contacta-me por mensagem.”
- Homem, 59 anos: “Tenho uma vida ativa e considero-me uma pessoa corajosa. Não pretendo ter filhos, mas tenho um cão. A mulher certa para mim é independente, gosta de viajar e quer um relacionamento por vontade e não porque precisa.”
- Mulher, 65 anos: “Profissional liberal, com filho adulto e autónomo. Gosto de pessoas não convencionais e com estilos de vida saudáveis. Se estás em forma, tens autonomia financeira e uma mente aberta e criativa, vamos conhecer-nos?”
- Homem, 70 anos: “Reformado, a viajar pelo mundo. Procuro mulher culta, com sentido de humor, ousadia e tempo livre para partilhar bons momentos ou algo mais, de forma descomplicada e sem dramas. Fotos actuais, agradecem-se.”
Um estudo da psicóloga Cláudia Casimiro, de 2014, sobre as diferenças de género em sites de encontros, analisou 200 perfis do Meetic (à data era o mais popular na Europa) e concluiu há estereótipos de género que permanecem e se reflectem online: “Os homens destacam os seus atributos racionais e práticos nos seus perfis, bem como o estatuto profissional e económico, enquanto as mulheres valorizam as facetas emocionais e afetivas e, sobretudo, os atributos físicos que as tornam atraentes.”
Companheirismo sem rótulos
Como explicar tanta actividade nos media sociais em geral e nos "pontos de encontro" para quem está sexual e / ou emocionalmente disponível, a partir de “uma certa idade” (outro eufemismo para ”longevidade”, mais o estigma e o medo do envelhecimento)?
Em primeiro lugar, vamos falar de medidas. A quantidade importa, mas a qualidade também e as preferências sexuais já não ficam no armário. Deixa de fazer-se fretes como antes, só para ter o bolo na mão (ou comê-lo, consoante o caso). Em segundo lugar, o estado de insanidade agridoce que dá pelo nome de romance leva-se com uma leveza diferente. A paixão vive-se com menos drama e sentimentos de ciúme e de posse. Em princípio, tem-se uma maior consciência de si e do outro, sem confundir o que é da mochila de cada um com o que pode ser partilhado sem complicações.
Por fim, o amor, essa abstração sem contornos definidos, que poderemos designar por companheirismo sem rótulos e que costuma ser expressa (e apreciada) através de coisas simples, pelas quais se fica grato, a saber: 1 - ser capaz de aceitar-se como se é; 2 - conseguir aceitar os outros como são; 3 - fazer algo entusiasmante a seguir a isso.
Os resultados da investigação das americanas Karen Fingerman e Eden Davis, publicada no Journals of Gerontology (2016), parecem confirmar estes pressupostos. A análise de quatro mil perfis de frequentadores de sites de encontros (idades entre os 18 e os 95 anos), traduziu-se em três grupos de palavras mais comuns (uma espécie de Top 3):
- Na amostra: “Amor” (67%), “Gostar” (62%), “À procura” (55%) e “Alguém” (50%)
- Entre os 18 e os 29 anos: “Trabalho” (38%), “Ter” (36%) e “Ir” (30%)
- A partir dos 65 e mais anos: “Viajar” (31%), “Ótimo” (24%) e “Relação” (19%)
As autoras, que se dedicam ao estudo da família e ao desenvolvimento ao longo da vida, concluíram que no discurso autobiográfico dos mais jovens é frequente o uso de pronomes na primeira pessoa: “Eu” e “meu”. Já no texto de apresentação dos frequentadores mais velhos o pronome da terceira pessoa do plural - “Nós” - e a palavra “relacionamento” eram mais usados.
Outro dado interessante: o factor “sexo” está vivo e recomenda-se em todos os grupos etários, derrubando o mito de que a idade limita o vigor, a beleza e a motivação para o prazer. Mas há uma diferença: com o passar do tempo, deixa de fazer sentido gastar bateria em coisas que antes eram “um assunto de vida ou de morte” e que agora parecem ter uma importância relativa ou mesmo nenhuma como, por exemplo, entregar-se ao penoso exercício (ou vício) de escolher entre liberdade e compromisso ou ficar refém de dilemas semelhantes (“quem procura sempre alcança” v.s. “quem muito escolhe pouco acerta”).
E porque toda a regra tem excepção, o oposto também pode acontecer: adultos “seniores” que pensam, sentem e agem como adolescentes tardios ou crianças que nunca cresceram e, mais contrastante ainda, que se aventuram pouco - ou quase nada - por sua conta e risco em território desconhecido. Os desafios da intimidade são tudo menos lineares e não oferecem garantias. Compreender isto leva tempo. E é por isso que a longevidade nos salva, depurando os sonhos de excessos líricos e cargas trágicas e criando novas oportunidades para os viver plenamente.

Clara Soares (jornalista e psicóloga)

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Grécia - aquele bem-estar único dos amantes

FREDERICO LOURENÇO, 1984

Grécia

Já não é a primeira vez que alguém me diz “como traduziste Homero, deves conhecer bem a Grécia”. Na verdade... não. Fui apenas três vezes à Grécia e, em rigor, não conto a terceira, já que consistiu numa semana que passei fechado numa escola de línguas em Atenas, a ter aulas de Grego Moderno 8 horas por dia. Entre a primeira vez que fui à Grécia em 1984 e a segunda vez em 2004 houve um intervalo de 20 anos. Nesses 20 anos tornei-me helenista: isto é, aprendiz de especialista do Grego Antigo. A minha Grécia sempre foi a língua grega.

As duas viagens separadas por 20 anos foram muito diferentes uma da outra. Eu não seria eu se não vos dissesse que a diferença consistiu antes de mais no facto de cada uma das viagens ter sido feita com um namorado diferente. 

Mas há outras diferenças que me ocorrem: em 1984 não havia cartões multibanco nem telemóveis nem euros. O meu namorado e eu chegámos a Atenas com um maço de libras na carteira, que fomos gerindo sabiamente até gastarmos a última nota de 20 libras no último dia da nossa estadia, o que deu para o táxi que nos levou ao aeroporto, mas não deu já para o pequeno-almoço. Nunca me soube tão bem uma comida no avião como o pão deslavado no voo que, naquele dia 2 de Outubro de 1984, nos levou de Atenas para Roma, onde apanhámos depois uma ligação para Milão, que nos trouxe para Lisboa. 

Nesse mesmo dia, que amanhecera para nós em Atenas, fomos ao fim da tarde até à Torre de Belém. Depois do mar da Grécia, o azul do Tejo (“quão diferente me vês e viste”, como no poema de Rodrigues Lobo) já não era o meu azul. É facto que 15 dias na Grécia tinham feito de mim outra pessoa.

Quando me vejo nas fotografias que o meu namorado da altura tirou na Grécia em 1984, vejo no meu rosto uma expressão rara de apaziguamento sereno. Normalmente não sou homem dado a apaziguamentos e a serenidade é uma emoção que me escapou quase sempre ao longo da minha vida. Nessa viagem, porém, houve uma espécie de plenitude que se apoderou de mim. 

Estava pela primeira vez na minha vida feliz no amor; estava em êxtase absoluto por estar finalmente na Grécia; e tinha trazido de Portugal suficientes maços de SG Gigante (o tabaco que eu fumava na altura) para não me faltar esse prazer indispensável. Toda a viagem decorreu sob o signo daquele bem-estar único dos amantes que, fartando-se à fartazana do corpo um do outro, mesmo assim nunca se sentem fartos. Isso vê-se na minha cara.

Em 1984, ninguém em Portugal sabia o que era iogurte grego. Chegados a Delfos numa tarde abrasadora em que estariam quase 40 graus à sombra, entrámos numa mercearia onde o dono nos ofereceu um lanche de iogurte com nozes e mel das abelhas de Parnasso. Daí a meia-hora, estávamos a refrescar a sede com água bebida directamente da fonte de Castália. Nessa noite, sentámo-nos a seguir ao jantar num terraço com vista para as montanhas, soando ao longe os trovões secos de uma tempestade sem pingo de chuva. Na madrugada seguinte, levantámo-nos antes do nascer do sol para vermos a aurora a surgir com os seus róseos dedos atrás das montanhas. 

O meu namorado captou o momento numa aguarela que sobreviveu ao facto de o cavalete ter sido atirado ao chão por uma rajada súbita do Zéfiro, vento que já na mitologia grega tinha uns ciúmes loucos de felizes amores homossexuais.

Se me tivessem dito na altura que eu um dia traduziria a Ilíada, a Odisseia, o Novo Testamento e os profetas dos Septuaginta, claro que me teria rido às gargalhadas. No entanto, ainda tenho o caderno que levei comigo à Grécia em 1984, no qual escrevi alguns passos de poesia grega na língua original (que eu ainda não dominava minimamente). Vejo que escolhi umas citações de Sófocles e os primeiros 100 versos da Ilíada, que me dei ao trabalho de copiar para o caderno, ainda sem entender praticamente uma única palavra. Acho interessante, hoje, que já nessa altura tenha sido a Ilíada a atrair-me mais do que a Odisseia, predilecção que, com intermitências, se tem mantido.

O meu namorado pintou várias aguarelas dos templos gregos que visitámos, a maior parte das quais, 30 anos depois, estão nas paredes da casa onde o André e eu vivemos em Coimbra. Estiveram antes nas casas que partilhei com o seu autor e suscitaram sempre comentários elogiosos das pessoas que nos visitavam. 

No entanto, houve uma vez um amigo alemão (heterossexual) que olhou em volta para as aguarelas de templos gregos pintados e comentou: “vê-se mesmo que vocês são gays”. Olhámos para ele com cara de parvos – olhámos depois para as aguarelas do Pártenon, de Súnion, de Atena Afaia em Egina... e encolhemos os ombros, sem perceber. Depois ele explicou: “nunca vos ocorreu que todas estas colunas gregas na vossa casa não representam outra coisa que não o pénis erecto?” Ao que nós respondemos, sinceramente: não.

(na foto: Frederico em Súnion, Setembro de 1984, com um maço de SG Gigante no bolso da camisa)


Frederico Lourenço, Coimbra, 2017-10-06





quinta-feira, 5 de outubro de 2017

AS 25 MAIORES MENTIRAS DE TODOS OS TEMPOS SOBRE O AMOR

Angel Boligán Corbo



Mentiras e mais mentiras que o podem fazer acreditar que o Amor é o que na verdade nunca foi, não é, nem nunca será!

A MINHA OUTRA METADE ANDA POR AI

Mentira. Você é uma pessoa inteira e não precisa de andar à procura de metades de si que a façam sentir completa.
Escolha amar pessoas inteiras que estimulem o seu crescimento emocional e pessoal, que se interessem por si e o “seduzam” a ver a vida sob diferentes perspetivas. Não espere que sejam elas a trazer-lhe a sua felicidade numa bandeja, pois ela pode ser de cristal. Encontre a sua forma de se fazer feliz, dê-a a conhecer, e sinta se a pessoa que escolheu se sente feliz ao vê-la fazer-se feliz.

FOI AMOR À PRIMEIRA VISTA!

Mentira. Foi atração à primeira vista. O Amor é uma construção feita com vontade, persistência, aceitação e perdão. Nasce da admiração e nutre-se de valorização reciproca, confiança, cumplicidade, partilha, intimidade emocional e sexual, e profundo afeto.

SE DEPOIS DE UM PRIMEIRO ENCONTRO NÃO ME LIGA, É PORQUE NÃO É AMOR.

Mentira. Esta afirmação é vulgarmente feita pelo sexo feminino. Mesmo apesar de um primeiro encontro fantástico para os dois, o facto de ele não ligar no dia a seguir, ou vários dias depois, não significa que ele não esteja interessado. É muito cedo para saber se é ou não Amor. O Amor envolve conhecer e descobrir o outro. Dê tempo ao tempo. As razões porque ele não a contacta podem nada ter a ver consigo ou com o encontro, mas estar relacionadas apenas com ele e com a vida dele. E se passar tempo demais… siga a sua vida!

ESTÁ CONQUISTADO, AGORA É MEU!

Mentira. Embora infelizmente exista uma tendência acentuada na sociedade em que vivemos a comparar as relações a bens de consumo, conquistar alguém que amamos é um processo que dura toda uma vida.
Não somos de ninguém. As pessoas não são coisas. Estamos na vida de alguém porque queremos estar e essa pessoa está na nossa vida porque queremos que esteja. Para que o sintam a cada instante é preciso ambos terem consciência da sua importância e interessarem-se genuinamente um pelo outro. O Amor nasce do interesse. Não existe amor sem interesse!

DISSE QUE GOSTAVA DE MIM, MAS QUE EU O PRESSIONAVA QUANDO QUERIA ESTAR COM ELE.

Mentira. Quem o ama de verdade quer estar ao seu lado e na sua companhia e arranja tempo mesmo onde parece não existir. Não necessariamente vinte e quatro sob vinte e quatro horas por dia. O espaço e tempo individuais são muito importantes.

EU CONSIGO AMAR PELOS DOIS…

Mentira. A letra da canção é linda… ganhou o festival da canção, mas ninguém pode amar pelos dois. Uma relação de amor saudável implica que os dois se amem e não que um ame pelos dois. O Amor que não sentimos, ou que o outro não sente não pode ser substituído. O Amor não se troca. Ou existe ou não existe. E se não existe, o melhor é aceitar e seguir em frente
Palavras como “destino”, “vida”, Karma”, são meras desculpas. Por detrás, podem estar medo, receio, culpa e o sentimento de não merecer ser amado e feliz.

DIZ QUE É AMOR O QUE SENTE, MAS CRITICA-ME A TODA A HORA, CULPA-ME E RI-SE DE MIM.

Mentira. Isto não é Amor nem aqui nem em lugar nenhum do Mundo. Existem pessoas que tem visões distorcidas do que é o Amor e essa estranha forma de amar os outros. São pessoas incapazes de amar a começar por eles próprios, pois talvez nunca ninguém lhes tenha ensinado a Amar.

SE ME AMA, FAZ O QUE EU QUERO!

Mentira. Quem faz tudo o que você quer é seu escravo não o seu Amor. Amar alguém não é escravidão, é estar atento aos desejos, necessidades e ao que é importante para essa pessoa, sem sacrificar os seus próprios interesses, sonhos, projetos e sem deixar de existir. E quando o implica, deixou de ser Amor para passar a ser sacrifício, tortura, anulação e solidão.

AMAR É FAZER TUDO JUNTINHOS.

Mentira! Nada disso! Isso é colar-se ao outro e não ter vida própria. Amar é fazer muitas coisas sozinho, com amigos, com a família, com conhecidos, com colegas… e também juntinhos, especialmente aquelas que dão mais prazer aos dois. Já tinha uma vida antes de o/a conhecer, certo?

SE HÁ DISCUSSÕES, NÃO É AMOR.

Mentira! Se há discussões é porque os dois estão a tentar encontrar-se a meio do caminho. Pode até acontecer estar a ser difícil, demorar algum tempo, mas pior do que ter discussões é não discutir. A indiferença e o “meter para dentro” conduz á depressão e somatização. Discussões a mais são sinal de “minas” na relação. Há que as descobrir e desativá-las. Se não o conseguirem fazer sozinhos peçam ajuda.

TEM UNS CIÚMES LOUCOS… É PORQUE É DOIDO POR MIM!

Mentira. Se tem ciúmes doentios é porque precisa de ajuda.
Os ciúmes obsessivos não são o termómetro do Amor. Revelam insegurança, baixa autoestima e podem ser um sinal de um transtorno obsessivo. Quando revestem agressividade verbal, emocional, e/ou física há que procurar ajuda.

É POSSÍVEL AMAR SEM CONFIAR.

Mentira. Não existe Amor sem confiança. Se não confia, não vai conseguir entregar-se e viver o Amor por inteiro. Não vai conseguir abrir o seu coração, ser frágil e vulnerável e dar a conhecer-se ao outro. Nem vai conseguir amar pela metade, porque isso também é uma mentira. Não vai amar, nem sentir-se amado. Entre viver um “é, não é” mais vale tentar perceber porque é que não consegue confiar, ou porque é que o seu companheiro não consegue confiar em si.

DIFERENÇAS E AMOR SÃO INCOMPATÍVEIS.

Mentira. Não são. Para amar e sentir-se amado o seu companheiro não tem que ser seu clone. Aliás, nem deve, sob pena de poder causar enjoou. Algumas diferenças são até desejáveis, para que os dois. aprendam a respeitar essa mesma diferença, e esse respeito recíproco, esse sim, é revelador de verdadeiro amor.
No entanto quando as diferenças são consideráveis, nomeadamente ao nível dos princípios, valores, modelos de relação e projetos de vida, elas podem dificultar o encontro e a relação.

SE ME PRESSIONA PARA TER SEXO É PORQUE ME AMA.

Mentira. está espantado? Sim, em pleno século vinte e um ainda há quem interprete pressões sexuais e assédio sexual como sinal de grande amor. Desengane-se. É exatamente o contrário. Quem o pressiona para ter intimidade sexual possivelmente não o ama, e acima de tudo, não respeita a sua vontade, nem o respeita enquanto mulher/homem.
Ceder a este tipo de pressões sexuais pode significar que anda a gostar muito pouco de si e a querer demais que os outros gostem de si.

SE ME TRAIU NUNCA ME AMOU!

Mentira. No que respeita às muitas relações de longa duração que acompanhei, o Amor e a luta pela sobrevivência da relação esteve presente. Acontece que os sinais de alerta dados não foram interpretados pelo outro como sérios, mas como “o mesmo de sempre”.
Muitas vezes, a falta de coragem para conversar, expor emoções, dizer o que se quer e o que não se quer mais, o que se espera do outro e o que se está disposto a dar, faz com que se vá arrastando o que nunca se devia arrastar, com que a desesperança, a solidão e a carência dominem e acabem por procurar e encontrar num outro tudo aquilo que mais desejam viver. Amaram, mas deixaram de amar, porque já não conseguiam mais amar sozinhos.

O AMOR QUE SENTIMOS VAI SER SEMPRE IGUAL.

Mentira. Não, não vai. Todos estamos sujeitos à mudança. As relações e o Amor também. Se for um Amor saudável e se for bem nutrido vai crescer e tornar-se cada vez mais forte, embora possam existir dias em que não o consigam ver e sentir. O Amor por vezes gosta de brincar às escondidas, mas quando é verdadeiro, mesmo quando se esconde, sabemos que ele existe e que vai aparecer de novo.

AMAR TAMBÉM É NÃO DIZER O QUE SE PENSA E SENTE PARA EVITAR QUE A RELAÇÃO ACABE.

Mentira. O Amor requer transparência, verdade, sinceridade e, sobretudo, honestidade, auto-respeito e dignidade. Se deixa de ser quem é, para não magoar e porque tem medo que a relação acabe, em vez de viver uma relação vai viver uma mentira numa prisão.
Uma relação de Amor maduro implica que os dois exprimam as suas emoções e vontade e que o medo “fim da relação” seja confrontado e ultrapassado, sob pena de estar a viver não um Amor mas um equívoco.

PASSA HORAS A FALAR COM OUTRAS NA NET, MAS SEI QUE ME AMA A MIM.

Mentira! Alguém que passa horas a conversar com pessoas do sexo oposto nas redes virtuais, quando podia estar a namorar consigo, não o ama, faz o que lhe apetece, sem considerar o que lhe apetece a si. Cabe-lhe a si pensar se quer um companheiro assim e se quer viver uma relação à distancia ou ter uma relação de amor.

AMAR É AGUENTAR E SOFRER!

Mentira. Se a sua relação o faz sentir que está a aguentar uma montanha às costas e desperta em si vontade de entrar numa nave espacial, dar a volta ao universo e escolher outro planeta para morar, há muito que deixou de ser uma relação de Amor.
O Amor e amar alguém não é, não pode ser, uma tortura, um sacrifício, um esforço. O verdadeiro Amor faz-nos sentir ter vontade de ficar, vontade de dar, vontade de correr de mãos dadas, vontade de cantar e de rir, vontade de abraçar e de partilhar, vontade de dançar…
Ainda que existam momentos, etapas, fases… difíceis a dois, quando existe verdadeiro Amor aguenta-se a dois e sofre-se a dois, não a um!

TER UMA RELAÇÃO É SINÓNIMO DE SER AMADO E FELIZ

Mentira. Existem milhões de pessoas no mundo que dizem ter uma relação mas que não se sentem nem amadas nem felizes. Em contrapartida existem muitas outras que não têm relação nenhuma, e que se sentem amadas e felizes… ainda que sem companheiro.
Uma relação de Amor, um companheiro empático que o aceite como é, o ame e respeite são a principal fonte de felicidade. A gratidão também o é!
Se ainda não o encontrou, namore consigo e sinta-se muito grato!

NÃO CONSIGO VIVER SEM ELE/ELA

Mentira! Filmes, músicas, telenovelas, livros… os responsáveis por este mito, colado nos neurónios de muitas mulheres e homens. Uma coisa é uma relação de amor, outra é uma relação de dependência. Na primeira, sabemos que amamos, mas que não precisamos, na segunda sabemos que dependemos, amando ou não amando. Muitas vezes confundimos amor com dependência. Nada tem a ver um com o outro. Pedir para deixar de ser quem é, culpa, acusações, cobrança, exigências, manipulação, chantagem e ameaças, não são Amor, são dependência.

NÃO TEMOS VIDA COMO CASAL, NÃO NAMORAMOS, NÃO FAZEMOS SEXO, MAS VOU AGUENTANDO… QUEM SABE UM DIA O AMOR VOLTA.

Mentira. Só por milagre acontecerá! Além do amor não voltar, a falta de afeto e de sentido, leva a um cada vez maior afastamento, a revolta e raiva vão reinando, e um dia irá sentir necessidade de castigar e punir essa pessoa por lhe ter “roubado” os melhores anos da sua vida, quando foi você que decidiu permanecer lá… todos esses dias da sua vida…
Não é natural estar numa relação e não namorar, não fazer sexo, não rir e passear, não fazer projetos e sonhar a dois e/ou sentir vontade de fazer tudo isso com outra pessoa.
Se hoje fosse o ultimo dia da sua vida, o que faria? Faça-o!

PARA RESULTAR E SALVAR O AMOR, EU PRECISO DE DAR MAIS.

Mentira! Provavelmente precisam é de ter uma boa conversa e esclarecer tudo o que existe para esclarecer.
Não assuma a responsabilidade pelo sucesso da relação sozinho. Uma relação são dois. Sabia que o facto de dar a mais pode gerar um desequilíbrio cónico na relação e potenciar ainda mais o desencontro?
O Amor não precisa de ser salvo, precisa que os dois o cuidem e se cuidem reciprocamente.

O AMOR ACABOU E ESTOU APAIXONADO/A POR OUTRA PESSOA, MAS PELA VIDA QUE VIVEMOS NÃO CONSIGO ACABAR A RELAÇÃO.

Mentira. Não consegue acabar a relação por muitas outras razões, entre as quais:
Porque não sabe como irá viver dali para a frente e o desconhecido provoca-lhe ansiedade e angústia e faz com que se sinta inseguro;
Porque não sabe o que a sua família, filhos, amigos e conhecidos vão pensar de si e como vão aceitar a sua decisão;
Porque não quer que o outro pense mal de si;
Porque apesar de ter feito o possível sente culpa e pensa que a falta de amor pode não ser motivo suficiente para acabar uma vida em comum;
Porque sente que falhou;
Porque receia que esse novo amor acabe;
Porque receia ficar sozinho e não encontrar quem o ame.
Porque se castiga por não conseguir amar o seu companheiro
Porque pensa que não merece ser feliz e amar de novo.
Porque ser e sentir de novo lhe parecem coisas erradas demais
Entre muitas outras razões…
Vai ficar a ver em reprise o filme da vida que viveu, ou vai fazer alguma coisa pela vida que está a viver? Que bem essa mentira faz aos dois agora? E no futuro?
A decisão é sua…

CONSEGUE-SE VIVER BEM SEM AMOR.

Mentira. Talvez a maior mentira de sempre!
Precisamos de Amor, como precisamos de respirar!
Precisamos de Amor próprio e do Amor dos outros.
Diferentes amores encaixam em diferentes espaços do nosso coração, como se fossem lâmpadas pequeninas…
Encontre-as, coloque-as no seu coração e veja se acendem…
Se o fazem sentir Amar, voar e brilhar… é Amor!
Corra atrás…
Mas só se correrem consigo!
No meu novo livro “Verdades, Mentiras e Porquês” e em www.margaridavieitez.com poderá encontrar estes e outros temas desenvolvidos com maior profundidade.
http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2017-08-15-As-25-maiores-mentiras-de-todos-os-tempos-sobre-o-Amor

Margarida Vieitez
RELAÇÕES

Margarida Vieitez é especialista em mediação familiar, de conflitos e aconselhamento conjugal, e dedica-se há mais de 20 anos ao estudo e acompanhamento de conflitos de diversa ordem, nomeadamente, familiares, conjugais e divórcio. Detentora de seis pós graduações, entre as quais, em Mediação Familiar pela Universidade de Sevilha, em Mediação de Conflitos e, em Saúde Mental, ministrou vários cursos de Mediação Familiar no Instituto de Psicologia Aplicada, estando frequentemente presente em conferências e seminários. Autora de vários livros, dentro os quais, "O melhor da vida começa aos 40", "Sos Manipuladores" e "Pessoas que nos fazem Felizes" .