sábado, 14 de dezembro de 2013

Filhos de pais gays são mais saudáveis


Sempre que surge a discussão sobre a adoção de crianças por casais gays, a ala conservadora se rende aos mesmos argumentos, aquele velho papo sobre a saúde emocional dos filhos. Só que os medos não passam de mitos (como a gente já contou por aqui). E, mais uma vez, a ciência volta à cena para derrubar preconceitos e mostrar que existem até algumas vantagens em ser criado numa família homossexual.
Pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, estudaram a vida de 500 crianças, com faixa etária entre 1 e 17 anos. E perceberam que os filhos de pais gays, com idade entre 5 e 17 anos, goleavam os filhos de casais convencionais no quesito saúde – em todas as classes sociais, essas crianças ficavam menos doentes. Ah, e mais: a autoestima dos filhos de pais gays não perdia em nada para as crianças criadas por casais heterossexuais. Ou seja, eram tão felizes quanto qualquer outra criança.
Os pesquisadores ainda não sabem explicar por que essas crianças são mais saudáveis, mas acreditam em algumas hipóteses. “Por causa da situação, as famílias de mesmo sexo geralmente desejam conversar e se aproximar mais dos problemas que as crianças têm na escola, comobullying. E essa abertura tende a tornar seus filhos mais resilientes. Essa seria nossa hipótese”, diz Simon Crouch, um dos autores da pesquisa.
É, um tapa na cara da homofobia. Aliás, vocês se lembram da história da atriz Ana Karolina Lannes? Dá uma olhada no vídeo.

Carol Castro, 6 de junho de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

HÁ UMA HISTÓRIA QUEER EM PORTUGAL?

 
“É com ambição que nos lançamos neste propósito: organizar os traços principais de uma história da sexualidade militante em Portugal, no período da democracia, a partir da qual construir uma posição queer. Por queer entendemos tudo aquilo, aqueles, que herdeiros do património imenso do feminismo, da revolta LGBT e da revolução sexual, se colocam em confronto com os dispositivos opressores, seja o casamento ou a escola, o trabalho ou a família. Por erótico – ou sensual ou desejo ou sexual – designamos o universo do toque e do olhar e seus imaginários assistentes. Numa frase, queremos que queer seja o termo que reivindica uma dimensão política para o erótico, nomeada por aqueles que o apreendem enquanto zona de guerra anticapitalista e contra o Estado.”
Fernando André Rosa e Miguel Carmo desenvolvem esta temática em http://www.jornalmapa.pt/2013/12/09/ha-uma-historia-queer-em-portugal-2/
 
 
 
 


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

DUAS MÃES? MULHERES LÉSBICAS E MATERNIDADE




Maria Eduarda Cavadinha Corrêa é autora da tese de doutoramento Duas mães? Mulheres lésbicas e maternidade, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, em 25/04/2012, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Brasil.

Ela conta que, das 12 entrevistadas, 11 disseram ter desejado em algum momento da vida ser mãe. “Quando elas se assumiam como homossexuais, algumas disseram ter refletido sobre a possibilidade de ser ou não mãe, se elas ainda teriam esse direito”, conta a pesquisadora. “Mas isso não as fez desistir desse sonho.”


“Em nossa sociedade, a relação heterossexual ainda parece ser a única possibilidade legitimada para formação de um casal ou até mesmo de uma família. Porém, é cada vez maior o número de pessoas que desafia os discursos normativos presentes e busca a constituição de parcerias afetivo-sexuais com outras de seu próprio sexo, muitas vezes associando essas parcerias à experiência da parentalidade, seja com filhos biológicos ou adotivos. Com as crescentes discussões sobre os direitos sexuais reprodutivos e com o surgimento de novos arranjos familiares, entre eles o formado por casais homossexuais, começa-se a desconstruir o modelo ideal de família nuclear e abre-se caminho para discussão de temas como a maternidade lésbica. Este trabalho pretende contribuir com o debate da homoparentalidade, procurando demonstrar as especificidades existentes entre essas mulheres e suas formas de construir sua cidadania íntima dentro do contexto heteronormativo da sociedade brasileira. Para tanto, foi traçado o seguinte objetivo geral: compreender as conceções sobre a parentalidade de mulheres lésbicas que buscam a gravidez por meio de doadores de sêmen, sejam eles conhecidos ou desconhecidos. O estudo proposto baseia-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa, como forma de privilegiar os discursos dos sujeitos como fonte de informação. Doze mulheres lésbicas aceitaram participar do estudo e foram entrevistadas entre os anos de 2009 e 2011. Os dados foram transcritos, organizados e analisados. A partir dos resultados, foi possível perceber que a vivência da maternidade por parte das mulheres lésbicas depende de fatores diversos como o histórico-cultural, o social, o jurídico-legal, o econômico e os relacionados às políticas públicas, além, é claro, da história de vida de cada uma dessas mulheres. Desta forma, para a mulher assumir a homossexualidade em uma sociedade heteronormativa e, ao mesmo tempo, optar pela maternidade, é necessário percorrer um árduo caminho, onde uma das saídas parece ser a luta pela cidadania plena e consolidação dos direitos humanos. Isto aponta para a importância de se abordar o tema em estudos e discussões acadêmicas com outras esferas da política pública e da vida social, incluindo a saúde pública.” http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-29042012-124625/pt-br.php








DUAS MÃES? MULHERES LÉSBICAS E MATERNIDADE


Índice


1. Apresentação

2. Direitos reprodutivos e direitos sexuais: importância para a população LGBT — Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
2.1. O contexto brasileiro: políticas, programas e ações voltadas à população LGBT
2.2. Política e programas atuais para as mulheres: onde estão as especificidades para mulheres lésbicas?

3. A reinterpretação dos laços de parentesco e novas dinâmicas familiares
3.1. As parentalidades em famílias homossexuais

4. A maternidade lésbica como fenômeno social: novas questões para a saúde pública

5. Formulação do problema, hipótese e objetivos

6. Desenho metodológico
6.1 abordagem do estudo
6.2. Aspetos éticos
6.3. Apresentando os sujeitos
6.4. Obtenção dos dados
6.5. Análise dos dados

7. Resultados e discussão
7.1. Categoria I ‑ O que é preciso para ser uma família?
7.1.1. “A família tradicional já foi desfeita há muito tempo, né?”
7.1.2. Sobre a incompatibilidade entre ser lésbica e maternidade
7.1.3. Desejo de ser mãe versus desejo de ter filho
7.2. Categoria II ‑ A decisão de aumentar a família: escolhas e procedimentos.
7.2.1. Sobre a decisão de transformar o desejo de ter filhos em realidade
7.2.2. Quem deve engravidar? Desejo ou não de passar pelo processo de gravidez
7.2.3. Estratégias para buscar a gravidez: reprodução assistida ou relação sexual heterossexual com fins reprodutivos ou inseminação caseira
7.2.4. Sobre a escolha do doador: conhecendo um desconhecido
7.3. Categoria III ‑ Como apresentar nossa família ao mundo?
7.3.1. Nos papéis da dinâmica familiar cabem duas mães?
7.3.2. O olhar do outro: reconhecimento familiar, social e legal
7.3.3. A estratégia da ROPA (Receção de Óvulos da Parceira) como forma de “confundir” a sociedade
7.4 Categoria IV ‑ Oque é ser mãe lésbica?
7.4.1. Sobre a compatibilidade entre ser lésbica e maternidade
7.4.2. Enfrentando o contexto heterossexista
7.4.3. E que venha o preconceito...
7.4.4. Mulheres lésbicas e internet: a busca da maternidade nas redes sociais virtuais

8. Considerações finais

9. Referências

Apêndice 1 ‑ Roteiro de entrevista
Apêndice 2 -‑Termo de consentimento livre e esclarecido
Anexo I ‑ Aprovação do COEP/FSP (Comité de Ética em Pesquisa / Faculdade de Saúde Pública)
Anexo II ‑ Folha de rosto do LATTES

Maria Eduarda Cavadinha Corrêa, 25/04/2012.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

ECONOMISTA USA DADOS DO GOOGLE PARA ESTIMAR POPULAÇÃO GAY


Pesquisa avalia que 5% dos homens norte-americanos seja gay, mas a maioria ainda não saiu do armário




Qual percentagem da população é gay? Essa é uma questão famosa pela dificuldade em ser respondida, dada a tendência em se mentir em pesquisas que abordam o assunto – e as poucas maneiras de se conferir os resultados empiricamente. Ao longo da história as pesquisas já trouxeram números que variam de 2% a 10% da população.

O economista Seth Stephens-Davidowitz, doutor em Harvard, publicou no último domingo um artigo no jornal The New York Times em que divulgava alguns resultados de suas pesquisas. O estudioso analisa, além de pesquisas tradicionais, informações sobre termos usados em mecanismos de busca como Google, redes sociais como o Facebook e informações em sites de encontro. Suas conclusões: 5% da população de homens nos Estados Unidos sente atração predominantemente por homens, a maioria vive no armário, e grande parte deles está casada com mulheres.

Stephens-Davidowitz analisou as estatísticas agregadas (e anônimas) fornecidas pelo Google dos termos utilizados por seus usuários. Ele constatou que, das buscas por termos ligados a pornografia, aproximadamente 5% continham palavras associadas a homens homossexuais – termos como “gay porn” ou “Rocket Tube”, um site de pornografia gay muito popular.Ele também aponta que a frase “Is my husband gay” (“Meu marido é gay?”) é a mais popular nessa estrutura – e surge em maior número nos estados mais conservadores. Ela está 10 pontos percentuais acima da segunda colocada, “Is my husband cheating” (“Meu marido está me traindo?”).

O economista então compara esses dados com as informações de institutos de pesquisa nacionais como o Gallup e as informações do Facebook, que demonstram que o número de homens abertamente gays varia de 1% (nos lugares mais conservadores) a 3% (nos mais liberais). Em pesquisas anônimas (que mesmo assim não são garantia de sinceridade) 3,6% dos homens se declarou homossexual. Conclusão: uma grande parcela dos gays norte-americanos continua no armário.
Stephens-Davidowitz também reforça que a avaliação pela quantidade de termos ligados à pornografia gay tem a vantagem de que os usuários as estão fazendo na privacidade do próprio lar – e, portanto, dando vazão a comportamentos que podem estar escondendo da sociedade. Enquanto o número de perfis no site Match.com de homens gays que buscam encontros casuais, ou de anúncios no site Craigslist com o mesmo fim, variam de estado para estado – nos mais repressores o número deles cai bastante – o número de buscas por conteúdo sexual gay nos mecanismos de busca genéricos é constante por todo EUA.
Ele resume seus resultados em uma frase: “Há uma quantidade imensa de sofrimento secreto nos Estados Unidos que pode ser atribuída diretamente à intolerância à homossexualidade.”


No fim de seu artigo, ele oferece algo mais humano:
Às vezes me canso de ficar olhando para dados agregados, então pedi que um psiquiatra do Mississippi especializado em auxiliar gays que vivem dentro do armário procurasse um paciente que aceitasse conversar comigo. Um deles entrou em contato. Ele me contou que é um professor universitário aposentado, na faixa dos 60 anos, que está casado com a mesma mulher há mais de 40 anos.
Mais ou menos 10 anos atrás, tomado pelo estresse, ele procurou terapia e finalmente aceitou sua sexualidade. Ele sempre soube que sentia atração por homens, disse ele, mas pensou que era normal e algo que os homens escondiam. Pouco depois de iniciar a terapia, ele teve seu primeiro, e único, encontro sexual gay, com um de seus alunos, de quase trinta anos de idade. Uma experiência que ele descreveu como “maravilhosa”.
Ele e sua mulher não fazem sexo. Ele diz que se sentiria muito culpado se um dia encerrasse seu casamento ou se envolvesse com um homem. Ele se arrepende de todas as principais decisões que tomou na vida.
O professor aposentado e sua esposa vão passar mais uma noite sem amor romântico, sem sexo. E apesar de tanto progresso, a persistência da intolerância vai fazer o mesmo com outros milhões de pessoas.
Marcio Caparica, http://www.ladobi.com/2013/12/economista-usa-dados-google-para-estimar-populacao-gay/ 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Al Berto: poesia e experiência



O último livro, Horto do incêndio (1997), torna-se, assim, um livro testamento, em que o poeta se dispõe a construir o diário de sua experiência quotidiana de morte anunciada. O primeiro poema, “Recado”, já avisa, após a construção de uma gloriosa imagem redentora e consoladora, “o mar por onde fugirá/ o etéreo visitante desta noite”, que não sejam esquecidos “os sessenta comprimidos letais/ ao pequeno almoço”. Ironia, sem sarcasmo, confirmada, mais adiante, no patético poema “SIDA”, em que, ao invés de um previsível lamento que decorreria em torno do tema, são encontrados os seguintes versos:

aqueles que tem nome e nos telefonam
um dia emagrecem – partem
deixam–nos dobrados ao abandono
no interior de uma inútil dor muda
voraz.
(...)
nem a vida, nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo do sono ouvimos
o rumor do corpo a encher–se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longas imagens difusas
daqueles que amamos e não voltam
a telefonar
Al Berto, Horto do incêndio, 1997
      

A morte é a experiência do quotidiano, mas relegada ao necessário plano do esquecimento, para que os mortos se reduzam ao simples desaparecimento, como o daqueles que não voltam a telefonar.
            
Mário César Lugarinho, Uma nau que me carrega: rotas da literariedade em língua portuguesa
Manaus, AM: UEA Edições, 2012, pp. 157-158