quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

DUAS MÃES? MULHERES LÉSBICAS E MATERNIDADE




Maria Eduarda Cavadinha Corrêa é autora da tese de doutoramento Duas mães? Mulheres lésbicas e maternidade, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, em 25/04/2012, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Brasil.

Ela conta que, das 12 entrevistadas, 11 disseram ter desejado em algum momento da vida ser mãe. “Quando elas se assumiam como homossexuais, algumas disseram ter refletido sobre a possibilidade de ser ou não mãe, se elas ainda teriam esse direito”, conta a pesquisadora. “Mas isso não as fez desistir desse sonho.”


“Em nossa sociedade, a relação heterossexual ainda parece ser a única possibilidade legitimada para formação de um casal ou até mesmo de uma família. Porém, é cada vez maior o número de pessoas que desafia os discursos normativos presentes e busca a constituição de parcerias afetivo-sexuais com outras de seu próprio sexo, muitas vezes associando essas parcerias à experiência da parentalidade, seja com filhos biológicos ou adotivos. Com as crescentes discussões sobre os direitos sexuais reprodutivos e com o surgimento de novos arranjos familiares, entre eles o formado por casais homossexuais, começa-se a desconstruir o modelo ideal de família nuclear e abre-se caminho para discussão de temas como a maternidade lésbica. Este trabalho pretende contribuir com o debate da homoparentalidade, procurando demonstrar as especificidades existentes entre essas mulheres e suas formas de construir sua cidadania íntima dentro do contexto heteronormativo da sociedade brasileira. Para tanto, foi traçado o seguinte objetivo geral: compreender as conceções sobre a parentalidade de mulheres lésbicas que buscam a gravidez por meio de doadores de sêmen, sejam eles conhecidos ou desconhecidos. O estudo proposto baseia-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa, como forma de privilegiar os discursos dos sujeitos como fonte de informação. Doze mulheres lésbicas aceitaram participar do estudo e foram entrevistadas entre os anos de 2009 e 2011. Os dados foram transcritos, organizados e analisados. A partir dos resultados, foi possível perceber que a vivência da maternidade por parte das mulheres lésbicas depende de fatores diversos como o histórico-cultural, o social, o jurídico-legal, o econômico e os relacionados às políticas públicas, além, é claro, da história de vida de cada uma dessas mulheres. Desta forma, para a mulher assumir a homossexualidade em uma sociedade heteronormativa e, ao mesmo tempo, optar pela maternidade, é necessário percorrer um árduo caminho, onde uma das saídas parece ser a luta pela cidadania plena e consolidação dos direitos humanos. Isto aponta para a importância de se abordar o tema em estudos e discussões acadêmicas com outras esferas da política pública e da vida social, incluindo a saúde pública.” http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-29042012-124625/pt-br.php








DUAS MÃES? MULHERES LÉSBICAS E MATERNIDADE


Índice


1. Apresentação

2. Direitos reprodutivos e direitos sexuais: importância para a população LGBT — Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
2.1. O contexto brasileiro: políticas, programas e ações voltadas à população LGBT
2.2. Política e programas atuais para as mulheres: onde estão as especificidades para mulheres lésbicas?

3. A reinterpretação dos laços de parentesco e novas dinâmicas familiares
3.1. As parentalidades em famílias homossexuais

4. A maternidade lésbica como fenômeno social: novas questões para a saúde pública

5. Formulação do problema, hipótese e objetivos

6. Desenho metodológico
6.1 abordagem do estudo
6.2. Aspetos éticos
6.3. Apresentando os sujeitos
6.4. Obtenção dos dados
6.5. Análise dos dados

7. Resultados e discussão
7.1. Categoria I ‑ O que é preciso para ser uma família?
7.1.1. “A família tradicional já foi desfeita há muito tempo, né?”
7.1.2. Sobre a incompatibilidade entre ser lésbica e maternidade
7.1.3. Desejo de ser mãe versus desejo de ter filho
7.2. Categoria II ‑ A decisão de aumentar a família: escolhas e procedimentos.
7.2.1. Sobre a decisão de transformar o desejo de ter filhos em realidade
7.2.2. Quem deve engravidar? Desejo ou não de passar pelo processo de gravidez
7.2.3. Estratégias para buscar a gravidez: reprodução assistida ou relação sexual heterossexual com fins reprodutivos ou inseminação caseira
7.2.4. Sobre a escolha do doador: conhecendo um desconhecido
7.3. Categoria III ‑ Como apresentar nossa família ao mundo?
7.3.1. Nos papéis da dinâmica familiar cabem duas mães?
7.3.2. O olhar do outro: reconhecimento familiar, social e legal
7.3.3. A estratégia da ROPA (Receção de Óvulos da Parceira) como forma de “confundir” a sociedade
7.4 Categoria IV ‑ Oque é ser mãe lésbica?
7.4.1. Sobre a compatibilidade entre ser lésbica e maternidade
7.4.2. Enfrentando o contexto heterossexista
7.4.3. E que venha o preconceito...
7.4.4. Mulheres lésbicas e internet: a busca da maternidade nas redes sociais virtuais

8. Considerações finais

9. Referências

Apêndice 1 ‑ Roteiro de entrevista
Apêndice 2 -‑Termo de consentimento livre e esclarecido
Anexo I ‑ Aprovação do COEP/FSP (Comité de Ética em Pesquisa / Faculdade de Saúde Pública)
Anexo II ‑ Folha de rosto do LATTES

Maria Eduarda Cavadinha Corrêa, 25/04/2012.

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