sábado, 21 de maio de 2016

CONVIVENDO COM UM NARCISISTA PATOLÓGICO

 
 
I
 
A vida com um narcisista patológico, não importa se do sexo masculino ou feminino, é recheada de acusações. Você vai ser acusado de tudo quanto é coisa possível, como por exemplo ter um caso ou simplesmente não amá-lo tanto quanto você afirma amar; não passar tempo suficiente com o narcisista; trabalhar ou estudar muito e não dar-lhe a atenção que merece ou afirmam que as coisas ou pessoas que você gosta interferem no relacionamento, etc.
Pouco importa se o narcisista faz todas essas coisas das quais acusa você. Se ele faz "é diferente". Ele "pode" ou "não significa a mesma coisa".
As acusações são tão contínuas, doloridas e sufocantes que você, aos poucos, às vezes sem perceber, vai mudando seus hábitos, evitando fazer as coisas ou ter contato com as pessoas que "incomodam" o parceiro narcisista.
Se você vive com um narcisista, vai notar que as coisas que significavam algo para você, começam a desaparecer. Você perde o contato com amigos e familiares, o seu trabalho sofre, suas notas caem, os cursos e hobbies são esquecidos e seu foco passa a ficar todo no parceiro e naquilo que não irá desagradá-lo. Você evita o conflito que, você sente, pode explodir a qualquer momento.
Você acorda de manhã e o primeiro sentimento é de medo de fazer qualquer coisa que não esteja dentro de uma rotina bem ensaiada. Trocando em miúdos, você pisa em ovos 24 horas por dia.
Como ele implanta na sua cabeça memórias falsas (recordações de coisas que você "fez" que o magoou e que ele repete até parecer real), tudo que você diz passa a ser distorcido. Essa dinâmica tem um único objetivo: fazer você se sentir inadequado de modo que o narcisista mostre a você sua superioridade no relacionamento e lhe mantenha sob seu controle.
Não importa quem você é, que trabalho faz, quanto é inteligente ou quanto é importante. Ao se permitir entrar nesta dinâmica, você aos poucos se torna um simples capacho na presença do parceiro narcisista. O narcisista espera que o parceiro o ame sem que haja a mesma resposta de amor de sua parte. Ele faz o parceiro sentir muito quando ele se vitimiza sem jamais sentir compaixão recíproca quando o parceiro é vítima de algo ruim. Explora as emoções do parceiro, manipula seus sentimentos, finge sentir o que não sente.
O narcisista se familiariza com seus pontos fracos, aprende as emoções que faz do parceiro um ser humanizado, mas esconde os seus. Com toda essa atenção, ele "amacia" o parceiro de modo a estabelecer um alicerce sólido típico das relações íntimas e saudáveis.
Mas não se engane. Haverá sempre algo faltando na resposta emocional do narcisista. Ainda que ele consiga "fazer uma mímica" de comportamentos que ele observa nos outros e considera útil imitar, vai ter sempre algo que vai parecer errado.
Às vezes, o parceiro não saberá dizer ao certo o que é, mas sente que tem algo fora dos eixos. Sua atuação romântica será sempre exagerada (excesso de atenção, surpresas, juras de amor, etc) ou apática (distância, frieza, indiferença, etc), mas nunca completamente normal.
 
II
 
Indivíduos narcisistas esforçam-se para defender sua fraca autoestima através da fantasia. Eles têm uma imensa mancha na alma (ferida narcísica), que não pode ser mostrada nem mesmo em sua forma de pensar.
As fantasias e as expectativas irrealistas surgem cedo na vida dessas pessoas. Narcisistas têm mecanismos de defesa diferentes de pessoas saudáveis. Dentre eles estão a negação, repressão de sentimentos , pensamento radical do tipo, preto ou branco, e a projeção da culpa . Ainda que alguém saudável tenha uma dessas características, não as tem todas juntas!
Em geral, são pessoas rígidas e tem uma forte necessidade de acertar sempre. A autoestima dessas pessoas melhora quando conseguem o que desejam. Nunca sentem remorso em usarem as pessoas à sua volta. Eles são hipersensíveis às criticas e podem, tanto revidar o ataque às outras pessoas, como também sair fora da situação para não ter de lidar com elas. Eles podem afastar-se física ou afetivamente, mas sempre estarão ressentidos. A combinação das defesas utilizadas por esse tipo de indivíduo, distorcem a realidade dos sentidos e faz com que falhe em relacionar-se com os demais.
Pessoas com traços severos de narcisismo patológico, vivem em busca de um amor ideal que possa cuidar de seu fraco senso de self (percepção de si mesmo) e dar-lhes um amor incondicional. Eles não pensam que os outros também têm que receber. Eles têm por padrão, distorcer a própria imagem (a fantasia de que eles são superiores aos demais). Tudo que eles pensam sobre si próprios é uma defesa para encobrir seu profundo sentimento de vergonha.
Na mente dos indivíduos narcisistas há um tipo de vão, uma brecha entre o amor que elas idealizaram e o relacionamento real com os parceiros. Eles buscam uma simbiose com o parceiro idealizado que tem a função de estabilizar seu Eu, mas vivem, paralelamente, o medo de serem traumatizados. Dessa maneira, eles se refugiam na aparência de bons sujeitos e com isso, tentam ganhar aprovação e reconhecimento. Quando não conseguem seu intento, eles sentem-se inúteis e feridos, bem como também atacados.
A fantasia é uma tentativa de processar informações, emoções e pânicos, não solucionados durante a infância. O objetivo é criar um tipo de maquiagem do que eles não tiveram no período infantil. Eles fazem demandas irrealistas para as pessoas próximas a fim de que possam se sentir bem. Essas defesas são maneiras que o indivíduo tem de não sentir nada. Eles não toleram o stress emocional e assim, tendem a projetá-lo sobre os demais, atribuindo-lhes maldade.
Pessoas que não podem tolerar seus próprios sentimentos de medo, de dor, ansiedade, desesperança e desespero, certamente não podem reconhecer essas emoções nos outros. Eles negam, racionalizam sua própria contribuição ou participação nos problemas que criam e mantêm sua fantasia interna de que são ótimos e que as coisas que fazem estão absolutamente certas.
Lucy Rocha (Personal Coach), Relações Tóxicas, 2016-04-25
Obs: Este texto traz uma resumo sucinto de vários artigos acadêmicos americanos e um brasileiro acerca das características do transtorno da personalidade narcisista, organizadas aqui em linguagem leiga, para entendimento de todos.

Sem comentários: