Maria Eduarda Cavadinha
Corrêa é autora da tese de doutoramento Duas mães? Mulheres
lésbicas e maternidade, apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública, em 25/04/2012, na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, Brasil.
Ela conta que, das 12
entrevistadas, 11 disseram ter desejado em algum momento da vida ser mãe.
“Quando elas se assumiam como homossexuais, algumas disseram ter refletido
sobre a possibilidade de ser ou não mãe, se elas ainda teriam esse direito”,
conta a pesquisadora. “Mas isso não as fez desistir desse sonho.”
“Em nossa sociedade, a relação
heterossexual ainda parece ser a única possibilidade legitimada para formação
de um casal ou até mesmo de uma família. Porém, é cada vez maior o número de
pessoas que desafia os discursos normativos presentes e busca a constituição de
parcerias afetivo-sexuais com outras de seu próprio sexo, muitas vezes
associando essas parcerias à experiência da parentalidade, seja com filhos
biológicos ou adotivos. Com as crescentes discussões sobre os direitos sexuais
reprodutivos e com o surgimento de novos arranjos familiares, entre eles o
formado por casais homossexuais, começa-se a desconstruir o modelo ideal de
família nuclear e abre-se caminho para discussão de temas como a maternidade
lésbica. Este trabalho pretende contribuir com o debate da homoparentalidade,
procurando demonstrar as especificidades existentes entre essas mulheres e suas
formas de construir sua cidadania íntima dentro do contexto heteronormativo da
sociedade brasileira. Para tanto, foi traçado o seguinte objetivo geral:
compreender as conceções sobre a parentalidade de mulheres lésbicas que buscam
a gravidez por meio de doadores de sêmen, sejam eles conhecidos ou
desconhecidos. O estudo proposto baseia-se nos pressupostos da pesquisa
qualitativa, como forma de privilegiar os discursos dos sujeitos como fonte de
informação. Doze mulheres lésbicas aceitaram participar do estudo e foram
entrevistadas entre os anos de 2009 e 2011. Os dados foram transcritos,
organizados e analisados. A partir dos resultados, foi possível perceber que a
vivência da maternidade por parte das mulheres lésbicas depende de fatores
diversos como o histórico-cultural, o social, o jurídico-legal, o econômico e
os relacionados às políticas públicas, além, é claro, da história de vida de
cada uma dessas mulheres. Desta forma, para a mulher assumir a homossexualidade
em uma sociedade heteronormativa e, ao mesmo tempo, optar pela maternidade, é
necessário percorrer um árduo caminho, onde uma das saídas parece ser a luta
pela cidadania plena e consolidação dos direitos humanos. Isto aponta para a
importância de se abordar o tema em estudos e discussões acadêmicas com outras
esferas da política pública e da vida social, incluindo a saúde pública.”
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-29042012-124625/pt-br.php
DUAS MÃES?
MULHERES LÉSBICAS E MATERNIDADE
Índice
1. Apresentação
2. Direitos
reprodutivos e direitos sexuais: importância para a população LGBT — Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
2.1. O
contexto brasileiro: políticas, programas e ações voltadas à população LGBT
2.2. Política
e programas atuais para as mulheres: onde estão as especificidades para
mulheres lésbicas?
3. A
reinterpretação dos laços de parentesco e novas dinâmicas familiares
3.1. As
parentalidades em famílias homossexuais
4. A
maternidade lésbica como fenômeno social: novas questões para a saúde pública
5. Formulação
do problema, hipótese e objetivos
6. Desenho
metodológico
6.1 abordagem
do estudo
6.2. Aspetos
éticos
6.3.
Apresentando os sujeitos
6.4. Obtenção
dos dados
6.5. Análise
dos dados
7. Resultados e
discussão
7.1. Categoria
I ‑ O que é preciso para ser uma família?
7.1.1. “A
família tradicional já foi desfeita há muito tempo, né?”
7.1.2. Sobre a
incompatibilidade entre ser lésbica e maternidade
7.1.3. Desejo de ser mãe versus desejo de ter filho
7.2. Categoria II ‑ A decisão de
aumentar a família: escolhas e procedimentos.
7.2.1. Sobre a decisão de transformar
o desejo de ter filhos em realidade
7.2.2. Quem deve engravidar? Desejo ou
não de passar pelo processo de gravidez
7.2.3. Estratégias para buscar a
gravidez: reprodução assistida ou relação sexual heterossexual com fins
reprodutivos ou inseminação caseira
7.2.4. Sobre a escolha do doador:
conhecendo um desconhecido
7.3. Categoria III ‑ Como apresentar
nossa família ao mundo?
7.3.1. Nos papéis da dinâmica familiar
cabem duas mães?
7.3.2. O olhar do outro: reconhecimento
familiar, social e legal
7.3.3. A estratégia da ROPA (Receção de
Óvulos da Parceira) como forma de “confundir” a sociedade
7.4 Categoria IV ‑ Oque é ser mãe
lésbica?
7.4.1. Sobre a compatibilidade entre
ser lésbica e maternidade
7.4.2. Enfrentando o contexto
heterossexista
7.4.3. E que venha o preconceito...
7.4.4. Mulheres lésbicas e internet: a
busca da maternidade nas redes sociais virtuais
8. Considerações finais
9. Referências
Apêndice 1 ‑ Roteiro de entrevista
Apêndice 2 -‑Termo de consentimento
livre e esclarecido
Anexo I ‑ Aprovação do COEP/FSP
(Comité de Ética em Pesquisa / Faculdade de Saúde Pública)
Anexo II ‑ Folha de rosto do LATTES
Maria Eduarda Cavadinha Corrêa, 25/04/2012.