Agradecimentos
Em primeiro lugar, à
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas Travestis e Transexuais (ABGLT), idealizadora
e presença marcante em todos os espaços políticos na defesa do Projeto Escola sem
Homofobia; à Pathfinder do Brasil, pela competência com que coordenou e
gerenciou as ações das organizações não-governamentais parceiras no projeto; à
Reprolatina, parceira no projeto, pela busca de novos olhares sobre a homofobia
no ambiente escolar.
Às lideranças de
organizações sociais e pessoas que participaram das reuniões iniciais do
projeto para o desenho do Caderno Escola
sem Homofobia e demais componentes do kit de ferramentas pedagógicas,
pelas contribuições baseadas na sua militância, mas, principalmente, pelas suas
experiências de vida e produção de conhecimento.
Às pessoas que leram
criticamente os capítulos produzidos para este Caderno, em especial ao grupo de
educadoras e educadores que participaram da etapa de validação que, com sua vivência
e reflexão sobre práticas pedagógicas em sala de aula que extrapolam os muros
escolares, tanto contribuíram para a finalização deste material.
Às/aos colaboradoras/es e
corpo técnico da ECOS - Comunicação em Sexualidade, que não mediram esforços na
criação deste Caderno, pelo trabalho inestimável e estímulo durante todo o processo.
Apresentação
Em maio de 2004, o governo
federal lançou o Brasil sem Homofobia –
Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e Promoção da
Cidadania Homossexual1, elaborado em estreita
articulação com o movimento social LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexuais) e outras forças sociais e políticas. Esse Programa, verdadeiro
marco histórico na luta de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais,
deve ser visto como um crucial e necessário avanço na ampliação e fortalecimento
do exercício da cidadania por consolidar direitos políticos, sociais e legais
tão arduamente conquistados pelo movimento LGBT brasileiro no enfrentamento à
homofobia2.
O Plano de Implementação
proposto pelo Programa Brasil sem Homofobia recomenda em seu componente V – “Direito
à Educação: promovendo valores de respeito à paz e à não discriminação por orientação
sexual” – o fomento e apoio a cursos de formação inicial e continuada de
professoras/es na área da sexualidade; formação de equipes multidisciplinares
para avaliar os livros didáticos, de modo a eliminar aspectos discriminatórios
por orientação sexual e a superação da homofobia; estímulo à produção de
materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e
superação da homofobia; apoio e divulgação da produção de materiais específicos
para a formação de professores; divulgação de informações científicas sobre
sexualidade humana.
Fica assim explícito o
entendimento do governo brasileiro de que a escola atua como um dos principais agentes
responsáveis pela produção, reprodução e naturalização da homofobia, não apenas
no que se refere aos conteúdos disciplinares, mas também às interações
cotidianas que ocorrem em seu interior e que são extensivas, também, ao
ambiente doméstico. Nesse aspecto, a homofobia reflete a mesma lógica violenta
de outras formas de inferiorização, como o racismo e o sexismo, cujo objetivo é
sempre o de desumanizar o outro. No entanto, observa-se uma diferença
fundamental: enquanto uma vítima de racismo é acolhida e confortada por sua
família, a vítima de homofobia, com raras exceções, não encontra em sua própria
casa a compreensão e o apoio necessários para seu conforto. Depreende-se daí o
papel fundamental que uma escola verdadeiramente cidadã tem de desnaturalizar a
homofobia para além de seus muros.
O Projeto Escola Sem Homofobia, financiado pelo Ministério da Educação através de recursos aprovados
por Emenda Parlamentar da Comissão de Legislação Participativa, é uma ação
colaborativa de âmbito nacional idealizada e implementada por organizações da
sociedade civil (ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e
Transexuais , Pathfinder do Brasil, ECOS – Comunicação em Sexualidade e
Reprolatina – Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva), contando com
a orientação técnica da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade – SECAD – do Ministério da Educação.
O Projeto Escola sem
Homofobia visa contribuir para a implementação e a efetivação de ações que promovam
ambientes políticos e sociais favoráveis à garantia dos direitos humanos e da
respeitabilidade das orientações sexuais e identidade de gênero no âmbito
escolar brasileiro. Essa contribuição se traduz em subsídios para a
incorporação e a institucionalização de programas de enfrentamento à homofobia na
escola, os quais pretendemos que façam parte dos projetos político-pedagógicos
das instituições de ensino do Brasil. Dessa maneira, o rojeto Escola sem
Homofobia vem somar-se aos legítimos esforços do governo em priorizar, pela
primeira vez na história do Brasil, a necessidade do enfrentamento à homofobia no
ambiente escolar.
A inclusão de uma política
de direitos LGBT numa política de direitos humanos é consequência das diversas
instâncias de diálogo e negociação entre o governo e a sociedade civil. Avanços
importantes aconteceram com os Planos de Ação da Conferência Internacional
sobre População e Desenvolvimento (Cairo,1994) e da IV Conferência Mundial
sobre a Mulher (Beijing 1995), pelo reconhecimento dos direitos sexuais e
direitos reprodutivos como direitos humanos. O II Plano Nacional de Políticas
para as Mulheres (2008), a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para a
População LGBT (2008), o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (2009), o
Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (2009) e a
criação do Conselho Nacional LGBT (2010), são respostas inequívocas do
compromisso do governo brasileiro com a igualdade e a justiça social para todas
as pessoas.
Este Caderno e o kit de ferramentas educacionais
que o acompanha compõem a base teórica e material com que se pretende dar o
passo inicial para a promoção e garantia de uma escola livre de homofobia.
Podem ser implementados
através de um programa de médio ou longo prazo, como também de oficinas
temáticas. Orientam-se pelos princípios da igualdade e respeito à diversidade,
da equidade, da laicidade do Estado, da universalidade das políticas, da
justiça social. Sua principal meta é contribuir para o reconhecimento da
diversidade de valores morais, sociais e culturais presentes na sociedade
brasileira, heterogênea e comprometida com os direitos humanos e a formação de
uma cidadania que inclua de facto os direitos das pessoas LGBT.
Introdução
Comunicar é preciso
Informar é diferente de comunicar e conhecer. Para transformar a
informação em comunicação e conhecimento é preciso que ela esteja relacionada
com o cotidiano, as práticas culturais, o meio de vida, a realidade e a visão
de mundo das pessoas receptoras, que faça sentido, emocione e dê segurança para
estruturar, organizar, reorganizar, construir ou reconstruir a percepção da
realidade, de acordo com a cultura de quem está nas bordas das redes de
comunicação. A informação que recebemos – de nosso lugar, com nossas práticas
culturais – nós a filtramos e a descartamos ou a compreendemos, podendo daí
obter algum conhecimento útil.
Foi com esse pressuposto
que a equipe do Projeto Escola sem Homofobia elaborou os materiais educativos do kit do qual este Caderno faz
parte, não perdendo de vista, evidentemente, o fato de que não basta, às
pessoas de qualquer idade, apenas obterem informação sobre o respeito à
diversidade sexual e sobre como acabar com a homofobia, a lesbofobia e a
transfobia para, imediatamente, abandonarem possíveis atitudes homofóbicas,
lesbofóbicas, transfóbicas.
Edgar Morin (2001), em seu
livro Os sete saberes necessários à
educação do futuro, afirma que “é preciso
situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido”.
Por exemplo, “[...] a palavra amor muda de sentido no contexto religioso e no
contexto profano, e uma declaração de amor não tem o mesmo sentido de verdade
se é enunciada por um sedutor ou por um seduzido” (p. 36).
Os materiais que compõem o kit educativo3 do Projeto
procuram contribuir para a desconstrução de imagens estereotipadas sobre
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, e promover como ganho a
convivência e o respeito em relação às diferenças, tendo sido concebidos com o
pressuposto de facilitar essa tarefa.
Objetivos e metodologia
Objetivos
• Alterar concepções didáticas, pedagógicas e curriculares, rotinas
escolares e formas de convívio social que funcionam para manter dispositivos
pedagógicos de gênero e sexualidade que alimentam a homofobia.
• Promover reflexões, interpretações, análises e críticas acerca de
algumas noções que frequentemente habitam a escola com tal “naturalidade” ou
que se naturalizam de tal modo que se tornam quase imperceptíveis, no que se
refere não apenas aos conteúdos disciplinares como às interações cotidianas que
ocorrem nessa instituição.
• Desenvolver a criticidade juvenil com relação a posturas e atos
que transgridam o artigo V do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o
qual: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido
na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais”.
• Divulgar e estimular o respeito aos direitos humanos e às leis
contra a discriminação em seus diversos âmbitos.
Metodologia
Busca-se desocultar a ordem
que coloca a heterossexualidade como natural, normal e única possibilidade de
os sujeitos viverem suas sexualidades, por meio de dinâmicas de trabalho com as
quais se pretende subsidiar práticas pedagógicas que favoreçam a reflexão e
incentivem mudanças.
Em sua organização, os
subtemas do Caderno apresentarão:
a) uma situação disparadora
– que estimula o debate proposto para o capítulo;
b) texto – desenvolvimento
do eixo temático a ser discutido, trazendo conceitos, considerações críticas e subsídios
de pesquisas e estudos, incluindo situações que podem ocorrer no cotidiano da
escola e que nos desafiam a enfrentar a homofobia;
c) dinâmicas: como fazer? –
ações, passos ou procedimentos necessários para a organização de atividades práticas
sugeridas, tendo como objetivo exercitar a capacidade reflexiva das/dos participantes;
d) comentários finais –
elencando alguns pontos de reflexão que visam sistematizar o conteúdo
discutido.
As dinâmicas incluídas
neste Caderno funcionam como sugestões de atividades que poderão ser realizadas
com: as/os professoras/es; o conjunto de profissionais que trabalham na escola;
estudantes nas salas de aula; familiares; e com a comunidade do entorno da
escola. Vale, ainda, salientar que os debates possivelmente suscitados por
essas dinâmicas estão impregnados das relações afetivas e de convivência que de
forma alguma podem ser desconsiderados pela escola como conteúdos importantes
de serem trabalhados, entre eles a cooperação, a solidariedade, o trabalho em
grupo, o respeito e a ética.
Apoiando os trabalhos
propostos no Caderno, os Boletins Escola
sem Homofobia (Boleshs) e os três audiovisuais
contribuem para estimular o debate e fundamentar o tema central do Projeto
Escola sem Homofobia.
O Caderno
A proposta do Caderno
Escola sem Homofobia é um convite a gestoras/es4,
professoras/es e demais profissionais da educação para um debate, oferecendo
instrumentos pedagógicos para refletir, compreender, confrontar e abolir a
homofobia no ambiente escolar.
Os textos aqui reunidos combinam, ao
pensar a educação, o conhecimento, a escola e o currículo a serviço de um
projeto de sociedade democrática, justa e igualitária – uma sociedade regida
pelo imperativo ético da garantia dos direitos humanos para todas e todos.
Assim, também entendemos que é papel de todas e todos que convivem no ambiente
escolar assumir o desafio de perceber de que modo a homofobia funciona para
manter a discriminação de pessoas que, de alguma maneira, não se conformam às
convenções de gênero e de sexualidade.
Para isso, é necessário trazer à tona e
discutir com a comunidade escolar (gestoras/es, professoras/es, auxiliares
administrativas/os, principalmente inspetoras/es, grêmios estudantis, conselhos
e Associações de Pais e Mestres - APMs, questões colocadas no dia a dia que refletem
inúmeras crenças, padrões culturais, hábitos e costumes carregados para os
ambientes educacionais em forma de gozações, brincadeiras e até agressões, bem
como alterar concepções didáticas, pedagógicas e
curriculares, rotinas escolares e formas de convívio social.
A importância de construir e partilhar
conhecimentos está evidenciada neste Caderno, organizado em capítulos que
trazem situações problematizadoras relacionadas a seus eixos temáticos e
propostas de dinâmicas para a discussão dos conceitos e temas, visando
subsidiar práticas pedagógicas com um sentido reflexivo e de incentivo a
mudanças. Essas dinâmicas podem ser aplicadas à comunidade escolar e, em
especial, a estudantes do ensino médio.
O Caderno apresenta uma proposta
conceitual e metodológica visando oferecer instrumentos pedagógicos para abordar
temáticas relativas a orientação sexual e a identidades de gênero, trazendo a homofobia
como uma questão central a ser problematizada nas escolas.
O primeiro capítulo – “Desfazendo a
confusão” – apresenta e discute o conceito de gênero e
a forma como os conteúdos das diversas disciplinas escolares transmitem os
modos de pensar, sentir e agir considerados apropriados ao sexo masculino, em
contraposição àqueles vistos como adequados ao sexo feminino. Ainda nesse
capítulo, em vista da necessidade de conhecer alguns conceitos importantes para
entender a diversidade sexual, pretende-se esclarecer dúvidas do senso comum e
desconstruir conceitos equivocados a respeito de identidade de gênero e
orientação sexual.
Evidenciando a premência dessas
discussões, o capítulo aborda destacadamente a homofobia na escola, desvelando
a necessidade de se observarem atentamente informações e conhecimentos
adquiridos no cotidiano escolar e nos livros didáticos, e a importância de
falar do assunto como forma de enfrentar o
preconceito e a discriminação contra a mulher e as/os LGBTs.
Para finalizar, sob o
subtítulo “A luta pela cidadania LGBT”, o capítulo aborda a história dos
movimentos, das conquistas e dos desafios das/os LGBTs por sua cidadania, no
Brasil e em outros países, revelando a importância da inserção desse grupo nos
planos das políticas públicas nas várias áreas e níveis, entre os quais a
escola.
O segundo capítulo – “Retratos
da homofobia na escola” – propõe desocultar e desconstruir a homofobia no
cotidiano escolar, explorando conceitos que possibilitem discutir e compreender
as sutilidades dos estereótipos criados em torno de gays, lésbicas, bissexuais,
transexuais e travestis, demonstrando como o silêncio diante de manifestações
homofóficas pode conduzir a agressões e violências de todo tipo.
O objetivo é fornecer
fundamentos que estimulem a elaboração de um currículo que permita adotar a transversalidade
como possibilidade de incluir, entre os temas sociais relevantes, o
enfrentamento da discriminação e da violência decorrentes dos preconceitos
relativos a gênero e a orientação sexual.
Também compõem esse
capítulo dados de pesquisas que revelam a existência de uma cultura homofóbica nas
escolas. Destaca-se, nessa parte, a importância da discussão acerca das práticas
escolares, nelas incluso o currículo, em que subjazem conceitos dogmáticos,
especulativos e naturalizantes sobre orientação sexual, seja por meio da
linguagem utilizada no cotidiano do ambiente ou da forma em que os conhecimentos
são oferecidos nos livros didáticos e nas disciplinas ou matérias curriculares,
assim como na organização sexual dos espaços da escola.
Em seu terceiro e último
capítulo – “A diversidade sexual na escola” –, a proposta é contribuir, com reflexões
e sugestões de atividades, para a elaboração de planos de ação voltados à
construção de PPPs (projetos político-pedagógicos) que respondam à necessidade
de enfrentamento da homofobia na escola.
A idéia central, nessa
parte, é a de mobilizar a comunidade escolar para que a diversidade seja
contemplada com as devidas extensão e responsabilidade nos currículos e nas
práticas escolares, enfrentando os desafios cotidianos relacionados à
orientação sexual e à identidade de gênero de estudantes, professoras/es e toda
a comunidade escolar. Com esse objetivo, foram elaborados caminhos e pistas
para uma escola sem homofobia, imbricados na sugestão de elaboração detalhada
de PPP para subsidiar um processo coletivo de sua construção, execução e
avaliação.
O Anexo 1 traz sugestões de
atividades a serem desenvolvidas com cada Bolesh (Boletim Escola sem Homofobia).
O Anexo 2 apresenta dicas
gerais para trabalhar com audiovisuais (filmes, programas de televisão, internet),
programas de rádio etc.
Finalmente vale ressaltar
que este Caderno não é a resposta, mas apenas uma ferramenta – ou uma coleção delas –
visando alterar concepções didáticas, pedagógicas e curriculares, rotinas
escolares e formas de convívio social que funcionam para manter fronteiras
rígidas entre as sexualidades e entre os gêneros que reproduzem a homofobia no
ambiente escolar, de onde são também retransmitidas aos demais ambientes sociais.
A ideia é fazer com que se percebam as situações em que essas fronteiras são
demarcadas e a homofobia é reproduzida, e se aprenda com elas, também propondo
novas formas de argumentação, mobilizando e multiplicando práticas e linguagens
que abram possibilidades de contribuir com a construção de práticas pedagógicas
e institucionais que valorizem positivamente a diversidade sexual.
Consideramos que, se os
currículos e as práticas escolares continuarem a produzir e a preservar divisões
e diferenças, reforçando a situação de opressão de alguns indivíduos e grupos,
mesmo aqueles e aquelas que se consideram membros dos grupos privilegiados
acabarão por sofrer e a consequência poderá ser a degradação da educação oferecida
a todas/os as/os estudantes.
É importante alertar que,
ao trabalharmos nessa direção, elaboramos uma proposta para incentivar debates
e críticas sem medo de sanções negativas por opinar e defender posturas
contrárias. A escola pública como um espaço laico e democrático da diversidade
deve, em seu bojo, atentar para ações de diálogo entre as diferenças, de
produção coletiva, de respeito à singularidade de cada uma/um, de
desenvolvimento da autonomia, para que os sujeitos criem e recriem seus
significados. Entendemos, assim, que este Caderno firma compromissos com a
transformação social, desejo esse que expressamos e lançamos a todas e todos, tendo
em vista a escola em seu potencial e capacidade de colaborar para a construção
de uma sociedade melhor, mais democrática e igualitária.
Cada capítulo deste Caderno
pode ser lido e trabalhado separadamente e na ordem julgada a mais conveniente
pela educadora ou pelo educador. Cada eixo temático tem seus significados. As
indagações dos diversos textos se reforçam e se ampliam, permitindo que também
sejam trabalhados em interface com os outros componentes do kit: os seis Boleshs e os audiovisuais Medo de quê?, Boneca na mochila e
Torpedo.
Em atenção ao Decreto nº
5.296/2004 e à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização
das Nações Unidas (ONU), ratificada no Brasil com equivalência de emenda
constitucional pelo Decreto Legislativo nº 186/2008 e pelo Decreto nº
6.949/2009, este Caderno está disponível nos formatos:
• DOC, OpenDOC, TXT e PDF no site
<http://portal.mec.gov.br>, para que seja acessado por qualquer ledor de
tela (sintetizadores de voz), em acordo com os padrões de acessibilidade;
• CD em formato MECDAYSE encartado ao final deste livro (o
software MECDaisy está disponível no site <www.intervox.nce.ufrj.br/mecdaisyfile:///G:\flavia.vital\Users\Flavia%20Vital\AppData\Local\Microsoft\Windows\Temporary%20Internet%20Files\Content.IE5\Configurações%20locais\Temporary%20Internet%20Files\OLKD0\www.intervox.nce.ufrj.br\mecdaisy>
para download).
Os outros materiais do kit educativo
Os Boleshs (Boletins Escola sem
Homofobia)
São seis ao todo e
constituem o material da/do estudante. O ideal é que cada estudante tenha seus
próprios exemplares. Eles não têm uma estrutura fixa, mas cada número trabalha
um tema importante na área dos direitos da população LGBT (o que é ser mulher e
o que é ser homem; orientação sexual; diversidade sexual; homofobia; direitos;
relações familiares) e tem um texto de fundo, textos menores e disparadores de
jogos, além de desenhos e cartuns que não são apenas ilustrações, mas
enriquecem o tema e geram reflexões. Ao desenvolver as atividades programadas e
previstas no Caderno junto com as/os estudantes, a facilitadora ou o
facilitador terá mais oportunidades de criar momentos de “curiosidade
epistemológica”5, essencial para a formação do espírito crítico em adolescentes
e jovens estudantes.
Os audiovisuais Medo de quê?,
Boneca na mochila e Torpedo
Os três audiovisuais são
acompanhados por guias de discussão com sinopse, comentários e sugestões de
atividades para a educadora ou o educador trabalhar os temas com a comunidade
escolar. Medo de quê? e Torpedo destinam-se especialmente a estudantes. Boneca na mochila é
um material a ser usado não apenas para a formação de educadoras/es, mas também
com mães, pais e familiares da comunidade escolar, e estudantes em sala de
aula.
• Boneca na mochila
Ficção que promove a
reflexão crítica sobre como as expectativas de gênero propagadas na sociedade
influenciam a educação formal e informal de crianças, através de situações que,
se não aconteceram em alguma escola, com certeza já foram vivenciadas por
famílias no mesmo contexto ou em outros. Ao longo do audiovisual, são apresentados
momentos que revelam o quanto de preconceito existe em relação às pessoas não
heterossexuais.
Baseado em história
verídica, mostra um motorista de táxi que conduz uma mulher aflita chamada a
comparecer à escola onde seu filho estuda, apenas porque o flagraram com uma boneca
na mochila. Durante o caminho, casualmente, o rádio do táxi está sintonizando
um programa sobre homossexualidade que, além de noticiar o fato que se passa na
escola onde estuda o menino em questão, promove um debate com especialistas em
educação e em psicologia, a respeito do assunto.
Classificação indicativa: não recomendado para menores de dez anos.
• Medo de quê?
Desenho animado que promove
uma reflexão crítica sobre como as expectativas que a sociedade tem em relação
ao gênero influenciam a vivência de cada pessoa com seus desejos, mostrando o
cotidiano de personagens comuns na vida real. O formato desenho animado, sem
falas, facilita sua exibição para pessoas de diferentes contextos culturais,
independente do nível de alfabetização das/os espectadoras/es.
Marcelo, o personagem
principal, é um garoto que, como tantos outros, tem sonhos, desejos e planos.
Sua mãe e seu pai, seu amigo João e a comunidade onde vive mostram expectativas
em relação a ele que não são diferentes das que a sociedade tem a respeito dos
meninos. Porém nem sempre os desejos de Marcelo correspondem ao que as pessoas
esperam dele. Mas quais são mesmo os desejos de Marcelo? Essa questão gera
medo, tanto em Marcelo quanto nas pessoas que o cercam.
Medo de quê? Em geral, as
pessoas têm medo daquilo que não conhecem bem.
Assim, muitas vezes
alimentam preconceitos que se manifestam nas mais variadas formas de
discriminação. A homofobia é uma delas.
Classificação indicativa: não recomendado para menores de doze anos.
• Torpedo
Audiovisual que reúne três
histórias que acontecem no ambiente escolar: Torpedo; Encontrando Bianca e
Probabilidade.
Torpedo – animação com fotos, que apresenta questões sobre a lesbianidade através
da história do início do namoro entre duas garotas que estudam na mesma escola:
Ana Paula e Vanessa.
Ana Paula estava na aula de
informática quando deparou toda a turma vendo na internet fotos dela e de
Vanessa numa festa, que haviam sido divulgadas por alguém para a escola toda. A
partir daí, as duas se questionam sobre como as pessoas irão reagir a isso e
sobre que atitude devem tomar. Após algumas especulações, decidem se encontrar
no pátio na hora do intervalo. Lá, assertivamente, assumem sua relação afetiva
num abraço carinhoso assistido por todas/os.
Encontrando Bianca – por meio de uma narrativa ficcional em primeira pessoa, num tom
confessional e sem autocomiseração, como num diário íntimo, José Ricardo/Bianca
revela a descoberta e a busca de sua identidade de travesti. Sempre narrada em
tempo presente, acompanhamos a trajetória de Bianca e os dilemas de sua
convivência dentro do ambiente escolar: sua tendência a se aproximar e se
identificar com o universo das garotas; a primeira vez em que foi para a escola
com as unhas pintadas; a dificuldade de ser chamada pelo nome (Bianca) com o
qual se identifica; os problemas por não conseguir utilizar, sem constrangimentos,
tanto o banheiro feminino quanto o masculino; as ameaças e agressões de um lado
e os poucos apoios de outro.
Probabilidade – Com tom leve e bem-humorado, o narrador conta a história de
Leonardo, Carla, Mateus e Rafael. Leonardo namora Carla e fica triste quando
sua família muda de cidade. Na nova escola, Leonardo é bem recebido por Mateus,
que se torna um grande amigo. Mas ele só compreende por que a galera fazia
comentários homofóbicos a respeito dele e de Mateus quando este lhe diz ser
gay. Um dia, Mateus convida Leonardo para a festa de despedida de um primo,
Rafael, que está de mudança. Durante a festa, Leonardo conversa com Rafael e,
depois da despedida, fica refletindo sobre a atração sexual que sentiu pelo
novo amigo que partia. Inicialmente sentiu-se confuso, porque também se sentia
atraído por mulheres, mas ficou aliviado quando começou a aceitar sua
bissexualidade. Classificação indicativa: livre.
____________
1 Disponível em: <http://www.mj.gov.br/sedh/documentos/004_1_3.pdf>.
Acesso em: outubro de 2009.
2 De modo geral, ao usarmos o termo homofobia, estamos
abrangendo nele a lesbofobia e a transfobia (forte rejeição a lésbicas e a travestis
e transexuais, respectivamente). Também quando usamos homofóbica/o, estamos
incluindo lesbofóbica/o e transfóbica/o.
3 O kit é composto por este Caderno, uma série de seis boletins (Boleshs), três audiovisuais com
seus respectivos guias, um cartaz e uma carta de apresentação.
4
Ao elaborarmos este Caderno tivemos o cuidado de, quando pertinente, usar o
feminino antes do masculino (suas/seus, ela/ele etc.), visando estimular uma prática
de linguagem que não reafirme o sexismo.
5 Pode-se entender a curiosidade epistemológica como “uma atitude
crítica diante dos acontecimentos; em um caminho para a conscientização; em uma
concepção de trabalho. Tudo isso envolve uma concepção de educação, de
pesquisa, de diálogo e de mundo que se traduz em um desafio à construção do
conhecimento científico-educacional” (apud MAIA e MION, 2008, p. 38). O desenvolvimento
da curiosidade epistemológica implica desafiar certezas intelectuais, exige
romper com o dogmatismo, com as opiniões e crenças estabelecidas como verdades.
[…]
Ler mais aqui.
Considerações finais
A fim de que a escola consiga aliar
ensino de qualidade com afetividade e respeito nas relações entre as/os
integrantes de sua comunidade e da que se situa em seu entorno, é fundamental
que a formação de educadores/as, gestores/as e demais profissionais da
educação, em temas como sexualidade, afetividade e relações de gênero, inclua
necessariamente conteúdos e metodologias sobre como formar para uma cultura da
diversidade que supere a tolerância formal.
Um caminho para se chegar a uma escola
sem homofobia, que respeite as diversas orientações sexuais e identidades de
gênero, é elaborar planos de ação que focalizem, de forma institucional, as
discriminações contra a diversidade sexual no cotidiano escolar.
Referências
bibliográficas
Apresentação e Introdução
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À
DISCRIMINAÇÃO. Brasil sem Homofobia: programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e
promoção da cidadania homossexual. Brasília, DF, 2004. Disponível em
<http://www.mj.gov.br/sedh/documentos/004_1_3>. Acesso em: outubro de
2009.
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Civil/Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>.
LIONÇO,Tatiana; DINIZ, Debora (Orgs). Homofobia & Educação.
Brasília: Letras livres: Ed. Unb, 2009.
MAIA, Dayane R. de Andrade. Curiosidade
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MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessários à educação do futuro.
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Capítulo 1 – Desfazendo
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GARCIA S. Diversidad sexual em la
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É possível fazer download aqui: KIG GAY
http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2015/11/kit-gay-escola-sem-homofobia-mec1.pdf |
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