sábado, 14 de setembro de 2013

Escala de Kinsey. Kinsey scale





   
NívelDescrição
0Exclusivamente heterossexual
1Predominantemente heterossexual, apenas eventualmente homossexual
2Predominantemente heterossexual, embora homossexual com frequência
3Bissexual
4Predominantemente homossexual, embora heterossexual com frequência
5Predominantemente homossexual, apenas eventualmente heterossexual
6Exclusivamente homossexual
XAssexual






domingo, 8 de setembro de 2013

AS MINHAS MÃES EDUCARAM-ME A RESPEITAR CRIANÇAS DE CASAIS HETEROSSEXUAIS





No dia 17 de maio de 2013, Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia e Transfobia, a ilha de São Miguel parece ter acordado com mensagens de luta e de amor.
Numa iniciativa entre Umar-Açores, APF-Açores, APAV-Açores, CIPA/Novo Dia e Pride Azores, nas varandas, portas e janelas dos espaços das associações foram colocadas bandeiras do arco-íris e a mensagem “Homofobia não é opção, é discriminação”.

Pelas ruas, em alguns locais movimentados, nas paredes encontraram-se mensagens como “Ana+Ana” ou “José+Daniel”. O jornal Açoriano Oriental do dia seguinte trazia ainda uma imagem de um stencil numa rua de Ponta Delgada onde se lê “as minhas mães educaram-me a respeitar crianças de casais heterossexuais.”
Todas estas iniciativas geraram reações, debate e pensamento crítico, como se quer.
E o melhor? Para além do impacto positivo, ninguém se aproveitou delas para se promover.

O mesmo não se pode dizer em relação a outras iniciativas, como por exemplo, as que estiveram à votação na Assembleia da Republica. O que para muitas pessoas foi visto como uma vitória, para outras foi um ensurdecedor grito de cobardia, hipocrisia e declaração de instrumentalização de uma população para fins eleitorais.
Quando à votação estão quatro projetos, sendo que apenas um mantinha a discriminação perante a lei, e é precisamente o que passa o que continua a discriminar, não me digam que são modernos e que se esforçam por uma sociedade justa. Com isto não quero dizer que os autores do projecto não mereçam reconhecimento, claro que merecem, até mesmo porque os próprios, ao que parece, votaram positivamente todos os outros.
Fomos premiados com uma série de intervenções e posições do além. Quando há um ano os projectos do BE e PEV foram chumbados pela direita e pelo PCP sob o argumento de que a vida privada e familiar das pessoas homossexuais tinha de ser debatida em praça pública, agora a co-adopção, algo que nunca foi debatido e desconhecido de muita gente, parece não ter suscitado dúvidas nas bancadas conservadoras. É caso para se dizer que mais parece um negócio da China.
Alguns dos que votaram a favor da meia-adopção não tiveram dúvidas em votar contra a adopção plena. Já vimos este filme antes, aquando do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em Portugal, há quem parece ter descoberto uma espécie de mina de ouro para “ficar bem na fotografia” ou para se promover. Na Assembleia, vamos vendo as maiores bancadas a darem caramelos às pessoas, a dizerem-se defensores da cidadania mas a conta-gotas. Por outras bandas vamos assistindo a esquemas e calculismos de defensores-relâmpago da causa LGBT, quando isso lhes der jeito para fazerem bonito perante as direcções das suas associações ou partidos.

Enquanto isso, enquanto toda gente tira proveito, os e as cidadãs que são discriminados e discriminadas, são postos em fila de espera, a chuparem caramelos, e a assistirem a todo esse espectáculo de hipocrisia e mesquinhice no seu estado puro.
O que os protagonistas não se percebem é que atreladas ao show off vêm manifestações de homofobia, que não chegam a conta-gotas, chegam sempre com a mesma intensidade, e sobre isso já não parecem querer ter voto na matéria.
Por outro lado, não querem perceber que o povo nem sempre se deixa fazer de tolo, e para breve está o dia em que...*

* este artigo foi escrito a “fazer pendant” com a cidadania das pessoas LGBT em Portugal, pela metade.

"O 17 de maio e a lei do caramelo", crónica de Cassilda Pascoal
http://dezanove.pt/507216.html, 21-05-2013,



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tu brincas com Eros, ó implacável






Tu brincas com Eros, ó implacável
Déspota, e as ninfas tu animas,
De azul pupila, e rubros elos
De Afrodite. Ambulas, entretanto,
em píncaros de sombra, em montes
De lá, que escutes meu chamado:
De Cleobulo, ó Dioniso,
Ah faz com que ele seja meu amado.

Anacreonte, frg. 2D (Tradução de Frederico Lourenço,  Poesia grega - de Álcman a Teócrito. Lisboa: Cotovia, 2006)




Por Cleobulo estou apaixonado,
por Cleobulo estou louco de amor,
para Cleobulo não me canso de olhar.

Anacreonte, frg. 359 PMG (idem, p. 56)










Homem muito homem fui, e homem por mulheres! – nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados. Repilo o que, o sem preceito. Então – o senhor me perguntará – o que era aquilo? Ah, lei ladra, o poder da vida [...] Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice [...] o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava.

Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa, 1956





Torna-se evidente que a máscara heterossexual de Riobaldo é a que lhe angustia, pois exerce, no bando, esta face de sua identidade, todavia se compraz no amor – embora rejeitado, negado, velado – por Diadorim, sujeito do mesmo sexo.
Evidencia-se no fragmento citado um complexo de identidade vivido pela personagem em foco, que mantém uma luta interna entre o ser homem (heterossexual, macho, viril, jagunço) e o ser gay (dar vazão ao desejo sexual pelo outro do mesmo sexo). Essa luta talvez possa ser dirimida se pensarmos que a crise pela qual passa não diz respeito diretamente a uma questão que o aloca no plano interpretativo dos que são “puramente” gays. Ora, pensar o gay de um ponto de vista cultural, social, antropológico, por exemplo, equivale a entendê-lo como um sujeito que exerce sua cidadania (ou que deveria exercer, uma vez que ainda é negada a cidadania a muitos gays no Ocidente), mantenedor não só do desejo afetivo-emocional (incluído aqui o sexual) pelo outro do mesmo sexo, mas também de toda uma cultura e desejo (desejo no sentido de uma estrutura psíquica, segundo a teoria psicanalítica), fato que o coloca num patamar não menor em relação ao já historicamente consolidado sujeito heterossexual. […]
Riobaldo incorpora a agonia do gay contemporâneo que “saiu do armário” e se vê diante de portas ainda fechadas para uma condição cambiante, ainda posta em prova nos cenários violentos das grandes cidades em que a “permissividade” do exercício da cidadania gay ainda é incipiente, preliminar, embora saibamos das várias conquistas sociais e culturais que os gays conseguiram nas duas últimas décadas.

Desejo homoerótico em Grande Sertão: Veredas”, Antonio de Pádua Dias da Silva, 2007