domingo, 30 de outubro de 2011

Atração entre iguais no reino animal


Biólogo americano sacode a Zoologia e revela que existe homossexualidade e vasta diversidade de comportamentos sexuais entre os animais. Eles vão muito além da tradicional união de macho com fêmea.

por Denis Russo Burgierman in SUPER 143, Brasil, agosto de 1999



 





Em 1988, depois de deixar a Universidade de British Columbia, no Canadá, o biólogo americano Bruce Bagemihl esqueceu que existiam instituições de pesquisa. Decidido a trabalhar por conta própria, passou dez anos revirando tudo o que se publicara sobre o comportamento sexual dos animais. Caçou artigos escondidos em jornais obscuros, resgatou trabalhos divulgados há mais de 200 anos e entrevistou zoólogos para tirar deles dados que eles próprios preferiam não publicar.
O resultado são as 750 páginas do impressionante Biological Exuberance – Animal Homosexuality and Natural Diversity (Exuberância Biológica – Homossexualidade Animal e Diversidade Natural), publicado este ano nos Estados Unidos. O livro apresenta provas mais do que convincentes, irrefutáveis, de que o velho modelo “macho com fêmea para criar filhotes” é uma pequena parte da história.

Bagemihl analisou 450 espécies, principalmente de mamíferos e aves, todas praticantes, em maior ou menor grau, de hábitos homossexuais. De saída, ele rechaça a insinuação de que seu trabalho pretende justificar a homossexualidade em humanos mostrando que é natural entre os animais. “Animais fazem muitas coisas que os humanos não acham aceitáveis, como canibalismo e incesto. Nós também fazemos várias coisas que eles não fazem, como usar roupas ou cozinhar”, disse à SUPER.
O mérito inegável do livro é ter feito a primeira pesquisa completa sobre um assunto tão fundamental e controverso. A conclusão surpreendeu os biólogos que ainda acreditam que só se faz sexo para produzir filhotes. Com Bagemihl, surgiu uma ideia nova na Biologia – a de que, apesar de não gerar descendentes, a homossexualidade faz parte do dia-a-dia de um número enorme de espécies.




 
Critérios objetivos definem homossexualidade
Para fazer uma discussão científica séria e afastar a carga de preconceito que vem à tona quando se toca no assunto, Bagemihl foi cuidadoso, definindo conceitos de modo claro e objetivo. Seu livro contempla cinco variedades de comportamento que ele classifica como sendo homossexuais.
A primeira é o cortejo. Inclui todas as formas que os animais empregam para se exibir e conquistar parceiros. A lira, uma ave australiana, faz como o pavão: o macho seduz a fêmea abrindo sua grande cauda. Mas não é só a fêmea que é atraída. Frequentemente, observa-se um macho exibindo a cauda para outro. E, volta e meia, um dos dois termina montando o companheiro.
A segunda categoria é o que Bagemihl chama de afeição. Inclui beijos, esfregões e carinhos parecidos. Você viu na página 26 os bonobos de lábios colados e, na capa desta edição da SUPER, os leões roçando a juba. São duas demonstrações de afeto realizadas sempre antes ou depois de uma relação sexual, ou de contatos que, ao menos, deixam os animais excitados.
O biólogo foi rigoroso ao excluir formas de carinho que parecem manifestação de sexualidade mas não são. Entre os macacos, por exemplo, sabe-se que os cafunés e as catações de piolhos não têm carga erótica; servem para manter a coesão social do bando.
Em terceiro vem a formação de casais, talvez a categoria mais surpreendente de todas. Mais de setenta espécies de aves realizam casamentos duradouros de indivíduos do mesmo sexo. Essas uniões também são adotadas por trinta mamíferos. Leões e elefantes machos, por exemplo, formam laços mais duradouros que pares heterossexuais.
Em quarto lugar vem a criação de filhotes. Isso mesmo: nem sempre essa atividade envolve a dupla pai e mãe. A ilustração acima mostra uma espécie da América Central, o pássaro-cantor (Wilsonia citrina), na qual um macho atrai o outro por meio do canto, no início do período reprodutivo, e depois eles se juntam. Constroem, então, o ninho e cuidam dos ovos e das crias abandonados por outros indivíduos. É a mesma situação da família de ursos que você viu na página 27: lá era mãe e mãe; aqui, pai e pai.
Por último, Bagemihl lista o contato sexual propriamente dito. Para ele, sexo é todo momento em que há estimulação dos órgãos genitais. Repare neste casal de macacas japonesas (Macaca fuscata), ambas fêmeas. Elas formam pares e montam frequentemente uma na outra.





Nem gay nem lésbica
Com isso Bagemihl acredita ter deixado bem claro que o termo “homossexualidade”, aplicado aos animais, não significa o mesmo que para gente. “O uso da palavra ‘homossexual’ faz muita gente associar a ideia a imagens de gays e lésbicas. Temos que saber separar as coisas”, disse ele à SUPER. O evolucionista Douglas Futuyma, da Universidade do Estado de Nova York, outro estudioso do comportamento animal, concorda. “Não podemos estabelecer conexões entre animais e seres humanos. Não dá para afirmar que os motivos sejam os mesmos. Dito isso, não há dúvida de que o livro traz dados interessantes e novos.”
A existência desses hábitos entre os animais já era conhecida. Mas nunca ninguém os havia reunido em uma pesquisa. Ainda mais importante, Bagemihl deu a primeira demonstração de que a atração homossexual é muito frequente.
Há um outra ressalva, ressalta o brasileiro César Ades, especialista em comportamento animal da Universidade de São Paulo. “Não podemos jogar tudo no mesmo saco”, diz ele. “As ações citadas no livro são realizadas em momentos diferentes, em situações as mais diversas. Não dá para achar que tudo é uma coisa só e tirar conclusões simplistas.”
Bagemihl sabe muito bem disso. “Tomei a precaução de advertir que há uma imensa variação de comportamentos”, esclarece ele. Ao juntar tudo em um livro só, sua intenção não foi dizer que todos aqueles animais estariam fazendo a mesma coisa, mas sim mostrar como é variado o repertório sexual na natureza.




Flagrantes da selva
• Casais de cisnes negros machos costumam ser mais bem-sucedidos que os heterossexuais. Por serem mais fortes, conseguem os melhores territórios. Os filhos que criam têm mais chance de sobreviver.
• Em 1979, a Marinha americana financiou uma pesquisa sobre o comportamento das baleias orcas. Pela primeira vez, observou-se homossexualidade entre machos da espécie. Mas a conclusão não consta do relatório de pesquisa. Foi vetada pelos militares.
• Os especialistas sabem que um ninho pertence a um casal de gansas quando o número de ovos é grande. É que as duas “mães” botam. Detalhe: como não há macho, os ovos não são fertilizados.
• Em 1987, o biólogo americano W.J. Tennent publicou um artigo intitulado Nota sobre a Aparente Queda dos Padrões Morais da Lepidoptera. Após descrever a homossexualidade das borboletas de Marrocos, afirmou: “Talvez seja um sinal dos tempos o fato de a literatura entomológica estar no caminho da decadência moral e das ofensas sexuais”. O cientista achou imoralidade em borboletas.
• Machos de guepardo, um felino africano, adotam filhotes perdidos e órfãos e os criam. Fazem o papel de pais e mães.
• Tirando o homem, poucas espécies apresentam homofobia – que é a aversão ao homossexualidade. Mas alguns machos heterossexuais de veados-de-rabo-branco hostilizam e atacam os homossexuais.
• Já foram registados casos de casais de gansas que viveram mais de quinze anos juntos. O casamento só terminou quando a morte as separou.
• Há zebras que morrem sem jamais ter copulado heterossexualmente. Optam pela conduta homossexual para sempre.
• A homossexualidade dos pinguins confundiu funcionários do Zoológico de Edimburgo, na Escócia, no começo do século. Pelas atitudes, as aves foram batizadas como Andrew, Bertha, Caroline, Eric e Dora. Depois, perceberam-se os erros: Andrew era Ann; Bertha, Bertrand; Caroline, Charles; e Eric, Érica. Só Dora tinha o nome certo.

Não é falta de opção. Muito menos engano
Para que serve o sexo? Os livros de Biologia sempre tiveram uma resposta curta e simples para essa pergunta: gerar descendentes. Então, como explicar as ligações entre fêmeas e fêmeas ou entre machos e machos que, evidentemente, não levam à procriação? Diversas ideias foram sugeridas. Bagemihl, no livro, desmonta uma por uma.
Há quem sustente que bichos do mesmo sexo só se envolvem quando não têm outra opção. Por exemplo, quando, em uma região, há muito mais machos que fêmeas ou vice-versa. É o que defende o escritor e biólogo americano John Alcock, especialista em comportamento animal da Universidade do Estado do Arizona. “O macho dirige impulsos sexuais não satisfeitos para alvos inadequados”, disse ele à SUPER. Bagemihl admite que isso ocorra com frequência. Mas prova que não é sempre assim.
Ele mostra que, em comunidades de girafas de maioria masculina, as fêmeas disponíveis podem ser ignoradas pelos machos. Na verdade, alguns recusam-se a copular com elas e preferem a companhia de um igual.

Não só na jaula
O mesmo acontece entre fêmeas de outras espécies. Casais de macacas japonesas atacam os machos que se aproximam durante suas relações homossexuais. Ou seja, pelo menos alguns indivíduos preferem companhias do mesmo sexo.
Outros cientistas justificam o homossexualismo atribuindo-o ao confinamento. Animais enjaulados seriam levados a essa prática para aliviar o estresse ou porque sofrem de distúrbio psicológico. Essa teoria era reforçada pelo fato de que, em muitas espécies, até pouco tempo atrás só se documentava atividade desse tipo nos zoológicos. Leões, gorilas, elefantes, muitos golfinhos e aves eram tidos como homossexuais apenas em cativeiro. Nas últimas décadas, porém, pesquisas na natureza mostraram que a homossexualidade fora da jaula só não tinha sido registrada antes porque não procuraram direito.
Outra teoria que Bagemihl derruba é aquela que atribui ingenuidade aos animais. Vários estudos afirmam que, em muitas espécies, machos e fêmeas são tão parecidos que eles próprios se confundem. Dessa maneira se justificaria o comportamento do antílope macho adulto, que corteja companheiros mais jovens mostrando-lhes o pescoço e depois monta neles. Para alguns biólogos, a causa do engano seria a cor castanha dos jovens, idêntica à das fêmeas. Acontece que elas não têm chifres e eles sim, o que torna essa explicação muito discutível.
Outro caso é o do galo-da-serra, uma ave da Amazónia. Os zoólogos diziam que os machos copulavam entre si por não saberem distinguir a fêmea. Mas, em um estudo, um galo montou em apenas uma fêmea e em mais de 100 machos. Se ele não soubesse diferenciar um do outro, era de se esperar que acertasse em metade das vezes, e não que errasse todas.
Há também quem afirme que o ato de montar serve para mostrar dominação. Um indivíduo mais importante cobriria o subalterno para deixar claro que é ele quem manda. Bagemihl mostra que, embora essa explicação seja válida para várias espécies, em muitas outras, como a das morsas, os dominantes na realidade são montados pelos dominados! Na mesma lista podem ser incluídos os leões-marinhos, os golfinhos, os carneiros-silvestres, os veados, as cabras, as hienas, os cangurus e os pica-paus.



Eles fazem porque gostam. E pronto
Depois de afastar as explicações mais comuns ou preconceituosas para a prática da homossexualidade, Bagemihl dá aos fatos uma interpretação original. “Quero me afastar do paradigma de pretender explicar a função de cada comportamento”, declara ele. “Em muitos casos, vê-se com clareza que não há nenhum motivo para aquilo que os animais estão fazendo.” O que ele está querendo dizer é que as espécies nem sempre adquirem características vantajosas para a sua sobrevivência.
Ao contrário, há diversos traços que parecem mais atrapalhar do que ajudar a evolução. É o que Bagemihl procura mostrar em defesa de sua proposta. Ele conta que os ciclos reprodutivos dos machos e das fêmeas dos avestruzes raramente se encontram, e o desencontro dificulta muito a fertilização. Entre os babuínos da savana, a agressividade dos machos em relação às fêmeas é tamanha que às vezes as matam. Bagemihl também relaciona fêmeas de aves que, logo depois de copular, defecam. Com isso, expelem o sémen que acabaram de receber, num rito anticoncepcional até hoje mal compreendido.
O infanticídio e o canibalismo de filhotes entre mamíferos são outros rituais difíceis de explicar. Nenhuma teoria mostra com clareza de que maneira esses atos favorecem a reprodução.
Para Bagemihl, o homossexualismo pode ter um motivo simples, que costuma ser ignorado pelos biólogos: prazer.
“A posição tradicional da ciência sempre foi a de assumir que o prazer sexual não existe para os bichos”, diz Bagemihl. “Mas, na minha opinião, quando estudamos o sexo, temos que revisar os pressupostos que temos.”

Prazer da mosca
O biólogo John Alcock não concorda inteiramente. Ele é um dos que recomendam cautela antes de falar sobre deleite sexual entre animais. “É difícil saber o que passa pela cabeça deles”, argumenta. Bagemihl concorda. “Como discernir o que uma mosca está sentindo? Talvez nunca sejamos capazes de comprovar a existência de prazer em interações sexuais animais.” O problema, acrescenta ele, é que também não podemos descartar a possibilidade de a satisfação sexual existir.
Muitos exemplos reforçam a tese de que a maioria dos animais fazem o que fazem porque gostam mesmo. Os mais marcantes são evidentes entre os macacos, cujas reações, por serem bem parecidas com as humanas, são mais fáceis de avaliar. Fêmeas de várias espécies, inclusive dos bonobos, parentes próximos dos chimpanzés, têm orgasmo em relações homossexuais. O fato é comprovado por grande número de testes e acontece, também, em comunidades de outros mamíferos, como as baleias brancas, cujos machos se envolvem em brincadeiras “eróticas” que sugerem uma orgia. Observa-se nesses mamíferos um gosto pelos afagos só igualado pelas generosas carícias mútuas das marmotas fêmeas ou pelo namoro dos periquitos machos, que formam casais que permanecem juntos até por seis anos.
Bagemihl reconhece que a discussão sobre o “erotismo animal” é a parte mais especulativa do seu livro, devido à dificuldade de demonstrar que os bichos também têm sensações de prazer. Tudo bem, raciocina ele. “Eu gostaria que meu livro se tornasse uma fonte importante de pesquisas futuras, mesmo se muita gente discordar das minhas conclusões.” Nesse ponto, Alcock não discute. “O homossexualismo certamente existe e precisa ser discutido.”
À luz da ciência, talvez seja preciso rever nossa visão sobre as categorias de género e o papel do prazer sexual na evolução das espécies. Há muito tempo, na verdade desde sempre, a natureza convive com uma diversidade sexual.



Para saber mais:
Biological Exuberance – Animal Homosexuality and Natural Diversity, Bruce Bagemihl, St. Martin’s Press, Nova York, 1999.
Por Que o Sexo é Divertido? – A Evolução da Sexualidade Humana, Jared Diamond, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1999.
Homosexual Behavior in Animals, Cambridge University Press, 2006. Read excerpts here. This is a science textbook published under the name of one of the most prestigious academic institutions in the world. The book cites dozens and dozens of examples of published research on animal homosexuality. It includes photographs, graphs, statistics. It covers the homosexual behaviors of geese, flamingos, bottlenose dolphins, feral cats, American bison, white-tailed deer, Japanese macaques, rhesus monkeys, and many more.
Apes of the World: Their Social Behavior, Communication, Mentality, and Ecology, 1986: Female bonobos "rarely rub each other the wrong way" during homosexual hunching.






quarta-feira, 5 de outubro de 2011

És um amante sedutor?



ATRAVÉS DESTE QUESTIONÁRIO, PODERÁS COMPROVAR SE TENS SUFICIENTES RECURSOS PARA LEVAR A ÁGUA AO TEU MOINHO NAS MANOBRAS DE ATRAÇÃO. SE A PONTUAÇÃO OBTIDA FOR BAIXA, NÃO DESISTAS: TUDO SE PODE APRENDER.



1. Sabes que, quando te arranjas, és uma pessoa verdadeiramente atraente? SIM / NÃO
2. Quando estás com alguém que te atrai, procuras mostrar interesse por ele ou por ela e dizer frases do género "fala-me de ti" ou "conta-me como passaste o dia"? SIM / NÃO
3. És capaz de improvisar um piropo original ou uma frase bonita agora mesmo? SIM / NÃO
4. Quando te sentes atraído por outra pessoa, atreves-te a dizê-lo através de frases como "agradas-me muito" ou mesmo "gostaria de te abraçar"? SIM / NÃO
5. Alguma vez lhe ligaste e mostraste segurança e firmeza com argumentos como "não te preocupes, eu resolvo isso"? SIM / NÃO
6. Consideras que também funciona mostrares-te inacessível ou colocares dificuldades ao outro com frases como "gostaria de estar contigo, mas hoje estou muito ocupado"? SIM / NÃO
7. Sabes murmurar ao ouvido uma tolice qualquer e fazer com que pareça um verso de amor? SIM / NÃO
8. Tens a certeza de que alguém guarda as mensagens de amor enviadas por ti? SIM / NÃO
9. Alguém já te disse que sabes beijar e abraçar como ninguém? SIM / NÃO
10. Sais sempre de casa convenientemente perfumado? SIM / NÃO



0 a 2 respostas SIM: És um apaixonado enfadonho ou, pior, um egoísta em termos emocionais. É provável que não tenhas grande êxito desse modo. Talvez por timidez, sentes-te intimidado pelos galanteios e preliminares necessários para iniciar o jogo. No melhor dos casos, és tão sexy e irresistível que não precisas de estratégias. Mas cuidado: todas as flores murcham, e é necessário ter outras qualidades para manter uma relação. Mostra as tuas qualidades ocultas.

3 a 5 respostas SIM: És como todos nós, que nos defendemos como podemos, ou seja, bastante bem. Torna-se bonito quem acredita que é, embora possa não o ser assim tanto. Além disso, conheces várias estratégias de sedução. Por que não apostas em algo diferente? Entre as pessoas sedutoras, não há apenas conquistadores e quebra-corações: também se incluem os generosos, os cavalheirescos, os encantadores. Em suma, as pessoas que cuidam da relação e protegem o mistério amoroso.

6 a 10 respostas SIM: Tens noção das tuas conquistas ou são demasiadas para te poderes recordar? Se calhar, foi apenas uma, o amor da tua vida, e, depois, esforçaste-se sempre, como se fosse a primeira vez, fazendo gala das tuas capacidades. Para seduzir não basta ser bonito, é preciso possuir talento para o amor, dominar as estratégias e empenhar-se. É o teu caso. Parabéns!

Super Interessante #131, Portugal, Março 2009









ENCONTRAR UM AMANTE | O CONSELHO TRADICIONAL EM RELAÇÃO A ISTO CONTINUA A SER O MELHOR: NÃO ENCONTRAS UM AMANTE SE ANDARES À PROCURA DE UM.




Se sais à noite com o objetivo de encontrar um amante, a tua ânsia irá fazer com que aqueles que poderiam ter interesse fiquem desinteressados. Podes ocasionalmente ligar-te a outro homem que também está ansioso; depois de alguns meses irás aperceber-te que não tinham mais nada em comum.
Uma melhor abordagem é participares em alguma atividade que gostes. Conhecer pessoas que partilham dos mesmos interesses. Faz amizades com aqueles de quem gostas, quer sejam homens ou mulheres, gay ou hetero. Eles provavelmente conhecem outro gay disponível.
Esta abordagem não dá garantias. Mas se não encontrares um amante fazendo as coisas de que gostas, provavelmente também não irias encontrar um andando às voltas pelos bares. Pelo menos divertes-te. Podes encontrar novas perspetivas de vida. No fim, o que recebes da vida tem mais a ver com aquilo que tu lhe dás, quer tenhas um amante ao teu lado ou não.








METER CONVERSA | UM BREVE COMENTÁRIO OU QUESTÃO DIRIGIDA A UM ESTRANHO, COM A INTENÇÃO DE INICIAR UMA CONVERSA OU ALGO MAIS.


As melhores deixas provêm mais da situação do que de um livro. Mas não te preocupes demasiado. Mesmo usando os maiores clichés, a coisa ganha pés para andar com um homem que esteja interessado; se ele não estiver interessado, pouco importa, por muito inteligente que a deixa possa parecer.
O ideal é fazer-lhe uma pergunta que proporcione mais do que uma resposta direta e curta. "Tem horas?" é fácil dizer, mas um homem envergonhado irá ter dificuldade em dizer-te mais do que as horas após ter consultado o relógio ‑ ficando inseguro sem saber se tu queres mais alguma coisa ou não.
É melhor se disseres algo de positivo, ou pelo menos neutro. "Isto é um bar nojento, não é?" irá, no melhor dos casos, dar a ideia que frequentas esse tipo de bares. No pior dos casos, vais ver que estás a falar com o dono do bar.
As sugestões apresentadas mais abaixo não ganham o prémio de originalidade, mas isso pode acontecer durante a noite. Elas apenas têm como objetivo dar-te um ponto de partida. Adapta-as de forma a se encaixarem à situação e à tua personalidade.

No bar
"Vens cá muitas vezes?" | As deixas são muitas vezes clichés, tudo bem. Esta, porém, é um cliché tão grande que, se tiveres que usá-la, di-la de uma forma bastante divertida. Deus queira que ele não acredite que tu pensas que estás a ser original.
"Olá, o meu nome é João." | É uma forma educada e direta, caso tenhas feito um contato visual e penses que ele está interessado em ti.
"Posso oferecer-te uma bebida?"
"Reparei em ti a atravessar a sala e achei-te muito interessante."
"O que achas da música?"
'Vi-te a dançar. Danças muito bem."
"Não estiveste aqui com o Carlos Santana na semana passada?" | Neste caso, não interessa com quem realmente tu pensas que ele esteve, ou sequer se o Carlos Santana existe.

No ginásio
"Será que te posso dar uma dica em relação aos pesos?"
"Sabes como a máquina Nautilus funciona?"
"Gostava mesmo de ter uns bíceps como os teus. Podes-me aconselhar algum exercício?"
Se te sentes mais descarado: "Fantástico, estás realmente em boa forma. Será que podes fazer uns músculos para mim?"

No supermercado
"Deveria comprar um molho de coentros. Qual deles é que é?"
"Aqueles vegetais parecem interessantes. Já alguma vez experimentou?" (Se apontares para uma cenoura podes ter uma resposta inesperada.)

Em várias situações
"Olá, sou de Faro e estou aqui de visita. Será que me podes sugerir alguns sítios agradáveis onde conhecer pessoas?"
"Não nos encontrámos no apartamento do Carlos Santana?" Que tipo tão útil que é o Carlos Santana!

Responder à deixa
Alguns irão aproximar-se de ti com uma questão do tipo sim ou não. Depende de ti fazer as coisas continuarem; não dispares com uma resposta de uma só palavra. Elabora e faz tu mesmo a tua pergunta. Afinal de contas, se ambos não conseguirem manter uma conversa, esquece. É a química errada.







ENGATE | PROCURAR UM PARCEIRO SEXUAL NUMA ÁREA PÚBLICA


O elemento principal no engate é o contato visual. À medida que percorres a rua, geralmente não estabeleces contato visual com as pessoas que passam por ti ‑ a não ser que aquele homem em especial te atraia. Se ele não te retribui o olhar, então desvia o teu olhar. Mas quando um homem te retribui o olhar e os seus olhos por breves instantes ficam colados, então as possibilidades apontam para que ele também esteja interessado.
Se te sentes corajoso e estás numa zona gay, poderás simplesmente parar e começar a conversar. Uma aproximação mais conservadora consiste em parar e olhar para uma montra ou ir para junto dele caso seja ele a fazê-lo. Um de vocês pode iniciar uma conversa dizendo o que vos vier à cabeça ‑ "Esta loja tem sempre roupas fixes na montra" ‑ e depois ver até onde as coisas vão.
Alguns homens estão desejosos de ir logo para casa daquele que viver mais próximo. Muitos, contudo, irão sugerir uma bebida ou um café antes. Isto proporciona a ambos a possibilidade de se conhecerem um pouco mais um ao outro. Se não gostares do que descobriste, não tens obrigação nenhuma de continuar. ‑ "Não me tinha apercebido que já era tão tarde. Tenho que acabar de lavar a roupa que está na máquina," pode não ser totalmente honesto naquele momento, mas é socialmente aceite como uma mentira inofensiva.

Onde fazer os engates
Algumas instituições foram criadas para facilitar o engate: muitos bares gay e todas as saunas gay são obviamente exemplos. As pessoas irão fazer este tipo de engate onde quer que haja aglomeração de gays, desde a Marcha do Orgulho Gay realizada anualmente até ao café gay nos arredores.
Para além disso, todos os centros urbanos têm uma área que não é identificada como gay mas que é popular por estas razões. Muitas vezes num parque, por vezes num snack bar que está aberto toda a noite, numa biblioteca, numa área de descanso da auto-estrada ou numa paragem de autocarros. As grandes praias também têm geralmente uma zona para gays, longe das multidões. Nas zonas que proporcionem privacidade, o sexo pode acontecer mesmo ali. Caso contrário, vão juntos para casa.
A altura do dia é importantíssima. Parques urbanos que durante o dia estão cheios de famílias, à noite, quando estão oficialmente fechados, tornam-se vivos com homens à espreita de sexo. O escuro proporciona privacidade -‑ podes ouvir alguém a aproximar-se antes de estar suficientemente perto para ver ‑ e torna difícil ser excessivamente discriminado pelo aspeto que tem. Alguns bares que estão abertos toda noite tornam-se locais de engate em determinadas noites da semana; talvez a equipa de futebol gay apareça nesse sítio, depois dos treinos, às terças-feiras. Numa cidade pequena pode ser que haja uma noite em que os gays vão a um bar hetero.
Engatar, contudo, não está confinado às áreas pré-designadas. Os homens fazem este tipo de engate todos os dias, em todos os sítios públicos possíveis e imaginários: lojas, bibliotecas, livrarias, supermercados, parques, e até ao andarem pela rua.

Segurança
Esta forma de engate tem os seus riscos, mas o bom senso e algumas precauções deverão normalmente estar envolvidas nisto. O perigo mais óbvio é a polícia. A prisão é menos comum agora do que há uns anos atrás, mas ainda acontece. Podes sentir que nunca foste além do amigável, mas se um polícia diz que lhe fizeste uma proposta é a tua palavra contra a dele no tribunal. Tenta saber através de amigos que conheçam a zona como é a situação local.
Para além de que existem rufias que fazem dos gays suas vítimas, podendo levar-te para zonas isoladas para depois te roubarem; ou ficam com a matrícula do teu carro ameaçando-te, depois, com chantagens.
Existe também o perigo de mostrares o teu interesse de forma demasiado óbvia em relação a um homem que não tem interesse por ti. Se ele não te retribuir o teu contato visual rapidamente, esquece. Caso contrário, o Sr. Fantástico pode decidir provar a sua masculinidade e pôr-te o nariz a sangrar.


Sexo gay, um manual para homens que amam outros homens, Jack Hart
Lisboa, Zayas Editora, 1998.

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