domingo, 18 de dezembro de 2016

relações abusivas

57 comportamentos que identificam relações abusivas

Quando lidamos com parceiros perversos, abusivos, tóxicos- sejam homens ou mulheres- é comum nos depararmos com diversas características que essas pessoas parecem ter em comum, bem como comportamentos repetitivos, previsíveis, como se tratasse sempre da mesma pessoa. Esses comportamentos, quando impostos dentro da relação, podem levar à total destruição da identidade, autoestima, capacidade de funcionar e vontade de viver da pessoa que se submete.
A seguir, vejamos como identificar ALGUNS desses comportamentos e características:




PIROTECNIA AMOROSA – Também chamada de bombardeamento amoroso, consiste em encantar o alvo com inúmeras demonstrações de amor, muitas delas exageradas ou públicas. Os pedidos de namoro, noivado são um show para outras pessoas verem, não um momento do casal. As surpresas são constantes, quase exageradas, deixando o alvo sem saber como retribuir ou agir diante do bombardeamento constante. O mais interessante é que o alvo percebe que as ações exageradas não parecem vir acompanhadas de real profundidade e sentimento. É quase uma intuição que, por não saber explicar, ignora.




DISTRAÇÃO/ILUSIONISMO – Junto com o item acima, nos primeiros dias, talvez meses, a pessoa perversa tende a ser muito atenciosa, presente, interessada, de um modo tão intenso que fará com que seu alvo pense que está “sendo cuidado”; que aquela presença imposta constantemente é um verdadeiro sinal de amor, mas o que na verdade faz é manter seu alvo ocupado o tempo todo, quase sempre com coisas ligadas à relação ou à pessoa perversa, de modo que não tenha mais tempo para si mesmo, para outras pessoas ou para prestar atenção em como a pessoa perversa realmente é.






alguem_muito_especial

TUDO PARA ONTEM – Pessoas perversas fazem planos para o futuro desde os primeiros contatos. Falam em casamento, filhos, morar juntos, adquirir patrimônio, tudo em tempo record. É tudo tão rápido que causa estranhamento em todos, exceto na pessoa apaixonada.




DESLIZES – Pessoas perversas fazem discursos moralistas, como se fossem as pessoas mais corretas do mundo, mas em meio ao discurso, sempre deixam escapar alguma coisa que vai na contramão do que pregam.


CICLO ABUSIVO – É um ciclo ininterrupto que alterna comportamento destrutivo e construtivo, típico de muitos relacionamentos e famílias disfuncionais. A pessoa perversa faz algo bom e logo em seguida algo ruim, desestabilizando o alvo e criando um ciclo vicioso de expectativa e insegurança.




ALIENAÇÃO – O ato de interferir ou cortar de vez as relações do indivíduo com os outros (amigos, família, colegas de classe, trabalho, etc). A ideia aqui é distanciar o alvo de qualquer pessoa que possa lhe servir de apoio.




“SEMPRE” e “NUNCA” – São declarações contendo as palavras sempre ou nunca. Elas são comumente usadas, mas raramente refletem a verdadeira intenção do perverso. “NUNCA mais fale comigo”, para logo estar perseguindo o alvo e encontrando desculpas para continuar o contato.




DESIGUALDADE LEGAL – A pessoa perversa sujeita o parceiro a uma séria de regras que ela não se sente na obrigação de seguir. Por exemplo, o alvo não tem a permissão de manter contato com pessoas do passado, mas a parte perversa pode, o alvo deve respeitar sua família, mas a parte perversa pode desprezar a sua, etc.




RAIVA – Pessoas que sofrem de certos transtornos de personalidade com frequência carregam um sentimento de raiva não resolvida e uma percepção mais aguçada ou exagerada que foram injustiçados, anulados, negligenciados ou submetidos a abuso, refletindo esta raiva sobre aqueles que os rodeiam.




ISCA – Um ato provocativo usado para provocar uma resposta irritada, agressiva ou emocional de um outro indivíduo. Diz algo que sabe que vai causar ira, mas o faz exatamente para ver seu interlocutor desequilibrado. Quando o alvo se desequilibra, a pessoa perversa parece a parte equilibrada.




CULPABILIZAR – O hábito de identificar uma pessoa ou pessoas como responsáveis por um problema, ao invés de identificar formas de lidar com ele. Fazem isso com tanta maestria que seus alvos vivem se sentindo culpados.




PROJETAR – É a prática de atribuir ao outro seus defeitos e maus comportamentos. A pessoa perversa dirá que o outro é mentiroso, promíscuo, agressivo, manipulador e tudo que achar de si mesmo. Às vezes, são coisas bem específicas. Um exemplo, um narcisista conhecido dizia que eu fazia sexo virtual com meu professor. Não entendia de onde aquilo tinha saído até descobrir que era viciado em sexo virtual. Outro narcisista tinha hábito de dizer que as mulheres se vitimizam para que homens paguem suas contas, mas quando em minha companhia, choramingava ganhar pouco para ter cada pãozinho seu pago, ou seja, era um explorador de mulheres.
BULLYING – Qualquer ação sistemática para ferir uma pessoa, aproveitando-se de uma posição de força seja física, hierárquica, social, econômica ou emocional. Pessoas perversas são experts em bullying contra seus parceiros, colegas de trabalho, amigos e familiares. Basta saberem de algo que lhe causa vergonha, que passam a utilizar da forma mais cruel possível.




RACIONAMENTO – O racionamento é um dos comportamentos mais cruéis do parceiro narcisista. Consiste em descobrir o que você mais gosta e simplesmente deixar de fazer ou racionar. Podem ser ações, frases ou palavras. Desta forma você passa a mendigar por aquilo que antes lhe dava em abundância e agora dá quando quer ou não dá. Pode ser de um simples ” bom dia” a comportamentos mais complexos. Se sabe que você gosta ou deseja, vai negar ou racionar.




TRAIÇÃO – envolve-se em relacionamentos românticos ou íntimos com outras pessoas quando já está empenhado em um relacionamento monogâmico com você. Para perversos, isso é bem comum, pois são extremamente promíscuos.




APROPRIAÇÃO – Consumir ou assumir o controle de um recurso ou bem pertencente ou compartilhado com um membro da família, parceiro ou cônjuge, sem antes obter a sua aprovação. Toma posse sem se importar com o que o outro pensa.




EXPLORAÇÃO – É a prática de explorar o parceiro, amigos ou familiares a fim de ter suas contas pagas. Vitimizam-se dizendo que não estão em condições, que precisam de ajuda, para poderem encostar-se. A exploração também se dá quando tomam empréstimos em família acreditando que não têm o dever de pagar, bem como está presente no modo que prestam seus serviços ou contratam serviços para si, tentando sempre tirar vantagem, cobrando a mais ou tentando pagar menos do que o que vale o serviço recebido.






Resultado de imagem para CHANTAGEM EMOCIONAL –


CHANTAGEM EMOCIONAL – Um sistema de ameaças e punições por trás de uma aparência fragilizada de vítima, utilizado na tentativa de controlar os comportamentos de alguém. Algumas vezes, essa característica também passa a ser do alvo de pessoas perversas, pois crê que, assim, poderá acessar a empatia da pessoa perversa, o que jamais acontece.




SENSO DE DIREITO – Uma expectativa irrealista, não merecida ou inadequada de condições de vida e tratamento favorável vindo dos outros. Se acham mais merecedores do que as outras pessoas. Tratamentos especiais lhes são devidos, mas para os outros, jamais.




FALSAS ACUSAÇÕES – Padrões de crítica injustificada ou exagerada direcionada ao alvo. Você diz: “tal pessoa me paquerava quando eu era adolescente” e a partir daí passa a ouvir por anos que a pessoa foi ou é seu/sua amante. Acusa o alvo de ter feito coisas ou ter tido comportamentos que nunca teve simplesmente porque “suspeita”.


FAVORITISMO – Favoritismo é a prática de dar sistematicamente tratamento positivo e preferencial para um dos filhos, um dos subordinados ou um dos membros dentro de uma família ou grupo de iguais (trabalho) em modo que os outros se sintam inferiores ou menos queridos. Faz isso usando outras pessoas também em detrimento do parceiro amoroso.




FALSO LITÍGIO– O uso de processos judiciais sem mérito para machucar, assediar (especialmente em divórcios) ou ganhar uma vantagem econômica sobre um indivíduo ou organização.




AUTOPROMOÇÃO GENEROSA – É a prática de dar ao alvo uma lista de pessoas que gostariam de estar com a pessoa perversa, bem como uma lista dos defeitos do alvo para, então, dizer que, mesmo assim, deseja estar com ele. “Sou bom por aceitar estar com você, não obstante seus defeitos.”




GASLIGHTING – É a prática de lavagem cerebral e manipulação a fim de convencer um indivíduo mentalmente saudável que ele está ficando louco ou que a sua compreensão da realidade é equivocada ou falsa. Nega-se fatos ou falas como se nunca tivessem ocorrido.




PODA – Podar é o ato predatório de manobrar um outro indivíduo para uma posição que o torna mais isolado, dependente, propenso a confiar e contar somente com a pessoa perversa, tornando-o mais vulnerável a um comportamento abusivo. Fazem isso dizendo que o alvo não é capaz sem sua ajuda ou presença.




ASSÉDIO – Qualquer padrão persistente ou crônico de comportamento indesejável de um indivíduo para com o outro. O comportamento rotineiro de pessoas perversas é um assédio constante.




HOOVERING– Hoovering é uma metáfora tirada de uma marca muito popular de aspiradores de pó nos EUA e Grã-Bretanha (Hoover) para descrever como uma vítima de abuso, ao tentar fazer valer os seus próprios direitos, deixando ou limitando o contato num relacionamento disfuncional, é sugada de volta quando a pessoa perversa temporariamente apresenta um comportamento melhor ou desejável, passando por uma revitimização.




IMPULSIVIDADE – A tendência de agir ou falar com base em sentimentos do momento ao invés de raciocínio lógico. Pouco importa se o que é dito não faz o mínimo sentido. Se precisar se justificar, dirá que disse porque VOCÊ a forçou a agir daquela forma.




ISOLAMENTO IMPOSTO – É uma das primeiras providencias tomadas pela pessoa perversa quando se envolve com um novo alvo. A ideia é distanciar; isolar o alvo de sua rede de apoio, o que inclui amigos e familiares. É muito comum que a pessoa perversa não tenha amigos íntimos e se relacione de forma superficial também com sua própria família e, por isso, não aceita que o alvo tenha relacionamentos mais profundos. Com o isolamento imposto e a alienação, a um certo ponto ficará somente ela e o alvo, o que aumenta seu poder de controle sobre o outro.


MANIPULAÇÃO FLOREADA – É um modo imperceptível de fazer exigências enquanto elogia. Por exemplo, um perverso conhecido dizia à moça com quem estava começando a se relacionar que queria fazer dela sua princesa, sua mulher para toda vida, porque ela era linda especial, mas que “não tinha certeza” que ela o colocaria entre suas prioridades “já que ela tinha muitos amigos e dava muita atenção aos seus familiares”, levando-a a distanciar-se dessas pessoas para ocupar o espaço de “princesa”.




INTIMIDAÇÃO – Qualquer forma velada de ameaça oculta, indireta ou não-verbal.




INVALIDAÇÃO – A criação ou promoção de um ambiente que incentiva o indivíduo a acreditar que seus pensamentos, crenças, valores ou presença física é inferior, imperfeita, problemática ou inútil.




FALTA DE CONSCIÊNCIA – Indivíduos que sofrem de alguns transtornos de personalidade são demasiadamente preocupados com suas próprias necessidades e interesses, às vezes, com a exclusão total das necessidades e preocupações dos outros. Algo que pode ser interpretado pelos outros como uma falta de consciência moral ou egoísmo e nada mais que isso, é na verdade o modo de vida da pessoa perversa.




FALTA DE CONSTÂNCIA DO OBJETO – Sintoma de alguns transtornos de personalidade, a falta de constância do objeto é uma incapacidade de lembrar que as pessoas ou objetos são consistentes, confiáveis e com os quais se pode contar, especialmente quando eles estão fora de seu campo imediato de visão. Constância do objeto é uma habilidade de desenvolvimento que a maioria das crianças não desenvolvem até dois ou três anos de idade. Daí a indiferença com seus sentimentos na ruptura, a falta de confiança quando não está controlando e etc.






Resultado de imagem para NARCISISMO 



NARCISISMO – Este termo descreve um conjunto de comportamentos caracterizados por um padrão de grandiosidade, o foco egocêntrico, necessidade de admiração, a atitude de auto-serviço (eu me sirvo sempre), falta de consideração e falta de empatia, sendo esta última a característica mais forte e maligna do narcisismo e portanto, essencial para a identificação desse padrão de comportamento. Não existem narcisistas capazes de se colocar no lugar do outro.




DESQUALIFICAÇÃO FLOREADA – a prática de elogiar, inserindo desqualificadores dentro de uma frase, de modo que a parte desqualificadora não seja percebida, mas surta efeito. Exemplo: “Eu amo suas gordurinhas” “Adoro seu corpo, tanto que conheço cada uma de suas 387 estrias” “Minha gorducha linda” “Você é um homem tão bom para mim que passei a amar até o seu péssimo português”. Serve para minar a autoestima do alvo de modo que se esmere para “melhorar” até ter o elogio “completo”.


NEGLIGÊNCIA – Uma forma passiva de abuso em que as necessidades físicas e emocionais de um dependente são desconsiderados ou ignorados pela pessoa responsável por eles. Nas relações tóxicas com pessoas perversas, a negligência vem à tona com frequência quando o alvo tem problemas de saúde, financeiros ou precisa de cuidados.




NORMALIZAÇÃO– Numa relação com perversos, é uma tática usada para dessensibilizar o indivíduo para comportamentos abusivos, coercitivos ou inapropriados. Em essência, a “normalização” nada mais é do que a banalização de coisas que, em sã consciência, não aceitamos como normais; é a manipulação de outro ser humano para levá-los a aceitar algo que está em conflito com a lei, as normas sociais ou seu próprio código básico de comportamento. Ex. Aceitar traição, agressão física, verbal, promiscuidade, poligamia, etc.




JOGOS SEM VITÓRIA – São situações comumente criadas por pessoas que sofrem de transtornos de personalidade, onde eles apresentam duas opções ruins para alguém próximo a eles e as pressiona a escolher entre os duas, assim sempre sairá perdendo. Isso geralmente deixa a pessoa que não tem transtorno de personalidade com um sentimento de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.


COISIFICAÇÃO – A prática de tratar uma pessoa ou um grupo de pessoas como objetos, mantendo-as à sua disposição ou descartando-as de acordo com suas necessidades. No sexo, o alvo também é coisificado no sentido que, após a relação sexual, comportamentos frios e abusivos são restabelecidos do nada, quando minutos antes tudo era maravilhoso, fazendo com que o alvo se sinta usado.


SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – Um termo usado para descrever o processo pelo qual um dos pais, geralmente divorciado ou separado do outro progenitor biológico, usa sua influência para fazer uma criança acreditar que o outro progenitor é mau ou inútil.





http://unadistabloggera.blogspot.pt/2011/07/la-mentira-patologicauna-variante-de-la.html

MENTIRA PATOLÓGICA – Decepção persistente por parte de um indivíduo para servir os seus próprios interesses e necessidades com pouca ou nenhuma relação com as necessidades e preocupações dos outros. Um mentiroso patológico é uma pessoa que existe apenas para servir suas próprias necessidades ainda que para isso deve lançar mão de mentiras.




VITIMIZAÇÃO – É a prática de assumir uma postura de vítima diante de amigos e familiares, relatando histórias onde aparece como vítima e o alvo como o vilão, de tal forma que as pessoas se compadeçam de si e odeiem o alvo. Para isso, lançam mão de histórias que jamais ocorreram, inacreditáveis quando ouvidas pelos alvo e que normalmente causam muita angústia, sentimento de injustiça e desejo de vingança.




RECRUTAMENTO – A maneira que a pessoa perversa tem de controlar ou abusar do alvo através da manipulação de outras pessoas para que estas inconscientemente passem a defendê-la, falar por ela, “comprar sua briga” ou “fazer o trabalho sujo” que ela deseja contra seu alvo. Essas pessoas são chamadas em inglês de “flying monkeys” que se traduz em “macacos voadores”, que nada mais são do que possibilitadores, facilitadores e colaboradores recrutados pela pessoa perversa.




EXPLOSÃO, RAIVA E AGRESSIVIDADE IMPULSIVA – Elevações explosivas verbais, físicas ou emocionais em uma briga, desproporcional à situação real. Mas atenção, esse comportamento sozinho não indica perversidade, já que acompanhado de culpa e remorso verdadeiros pode indicar Transtorno Explosivo Intermitente, que nada tem a ver com perversidade e pode ser tratado.




SABOTAGEM – A ruptura espontânea da calma ou status quo, a fim de servir a um interesse pessoal, provocar um conflito ou chamar a atenção.




BODE EXPIATÓRIO – a escolha de um indivíduo ou grupo para receber culpa ou tratamento negativo não merecido. A pessoa perversa faz e põe a culpa nos outros.




MEMÓRIA SELETIVA E AMNÉSIA SELETIVA – O uso de memória, ou a falta de memória seletiva com o intuito de reforçar um preconceito, crença ou obter um resultado desejado, utilizando somente aquilo que lhe convêm.




AUTOENGRANDECIMENTO – É um padrão de comportamento pomposo; o hábito de vangloriar-se. Presença de narcisismo ou competitividade projetados para criar uma aparência de superioridade.


VERGONHA – A diferença entre culpa e vergonha é que ao culpar alguém você diz a uma pessoa que ela FEZ algo ruim e ao envergonhar alguém você lhe diz que a pessoa É algo ruim. Por exemplo, um perverso conhecido quando queria envergonhar, dizia que eu era mentirosa diante de todos (vergonha). Na intimidade, dizia que não podíamos ser felizes porque eu mentia muito (culpa). Nenhuma das duas coisas acompanha fundamento ou explicação lógica, sempre, quase sempre, fruto de suposições.




STALKING (PERSEGUIÇÃO)– Qualquer padrão invasivo e indesejável de buscar o contato com outro indivíduo. A pessoa narcisista pratica stalking somente quando é dispensada pelo alvo antes que ela o descarte. Como não aceitam ser deixadas, perseguem. O alvo, normalmente, também pratica stalking ao ser descartado.



TESTE – Forçar repetidamente outra pessoa a demonstrar ou provar seu amor ou compromisso com o relacionamento a fim de demonstrar para a pessoa narcisista o seu valor.




POLICIAMENTO DO PENSAMENTO – Um processo de interrogatório ou tentativa de controlar os pensamentos ou sentimentos de outra pessoa. É uma prática percebida especialmente quando o alvo deseja estar em silêncio ou reflexão.




TRIANGULAÇÃO – Ganhar uma vantagem sobre os “presumidos rivais” ao manipulá-los para que entrem em conflito uns com os outros. Falam mal de uma pessoa para a outra a fim de ver a relação entre elas se deteriorar ou ver pessoas disputando um posto importante na vida da pessoa perversa.


SILÊNCIO AGRESSIVO – Método insidioso de violência psicológica que consiste em passar horas ou dias tratando o alvo com silêncio injustificado e punitivo, quase sempre acompanhado de cara fechada e pequenas frases de acusação sem sentindo ou embasamento na realidade. “Você sabe porque estou assim.”




marioneta

VISÃO DE TÚNEL – Uma tendência a se concentrar em um único interesse (seu) ou ideia e negligenciar ou ignorar outras prioridades importantes ou todas as circunstancias.


DESCARTE OU SUMIÇO – Como toda relação com uma pessoa com essas características é superficial, independente do tempo que passou, quando ela sentir que o alvo não serve mais aos seus propósitos, ou seja, deixou de ser uma fonte de suprimento narcísico, ela o descartará e desaparecerá sem explicação ou com um arroubo de raiva injustificada que deixará o alvo se perguntando o que fez de errado. Um relacionamento com uma pessoa perversa narcisista jamais termina com uma conversa clara e civilizada; um comum acordo. Ou some ou demonstra ódio para justificar o fim.


P.S. É óbvio que a presença de um desses comportamentos isoladamente não indica perversidade ou transtornos de personalidade. É um conjunto deles que dará sinais claros de que se trata de pessoa perversa/tóxica/abusiva da qual preservar-se é preciso!


Lucy Rocha
Personal Coach
Advogada, personal coach e fascinada pelo estudo de transtornos de personalidade, administra a página Relações Tóxicas, na qual dá dicas e apoio a pessoas que vivem, viveram ou sobreviveram a uma relação abusiva. Seu maior prazer é escrever reflexões sobre a vida e sobre o ser humano.
https://www.facebook.com/RelacoesToxicas/
http://www.contioutra.com/57-comportamentos-que-identificam-relacoes-abusivas/

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

PROBLEMAS DE GÉNERO: FEMINISMO E SUBVERSÃO DA IDENTIDADE




Judith Butler é uma filósofa pós estruturalista e uma das principais teóricas da questão contemporânea do feminismo, da  teoria Queer e dos estudos de gênero.
No livro Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade Butler procura problematizar a ordem vigente em nossa sociedade que exige a coerência total entre um sexo, um gênero e um desejo obrigatoriamente heterossexuais. Ou seja, a ideia de que a matriz heterossexual estaria assegurada por dois sexos fixos e coerentes, os quais se opõem como todas as oposições binárias do pensamento ocidental: macho x fêmea, homem x mulher, masculino x feminino, pênis x vagina etc. Para Butler o gênero é performativo, ou seja, é muito mais amplo e diverso do que a noção binária  Homem x Mulher.

PROBLEMAS DE GÊNERO EM PDF: CLIQUE AQUI!

sábado, 3 de dezembro de 2016

BOM-CRIOULO (Brasil, séc. 19)





Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha (Aracati, Ceará, 29 de maio de 1867-Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1897), foi o primeiro grande romance brasileiro a tratar da homossexualidade e um dos primeiros a ter um herói negro.


http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/bomcrioulo.pdf


 


«Às nove horas, quando Bom-Crioulo viu Aleixo descer, agarrou a maca e precipitou-se no encalço do pequeno. Foi justamente quando o viram passar com a trouxa debaixo do braço, esgueirando-se felinamente...
Uma vez lado a lado com o grumete, sentindo-lhe o calor do corpo roliço, a branda tepidez daquela carne desejada e virgem de contactos impuros, um apetite selvagem cortou a palavra ao negro. A claridade não chegava sequer à meia distância do esconderijo onde eles tinham se refugiado. Não se viam um ao outro: sentiam-se, adivinhavam-se por baixo dos cobertores.
Depois de um silêncio cauteloso e rápido, Bom-Crioulo, aconchegando-se ao grumete, disse-lhe qualquer cousa no ouvido. Aleixo conservou-se imóvel, sem respirar. Encolhido, as pálpebras cerrando-se, instintivamente de sono, ouvindo, com o ouvido pegado ao convés, o marulhar das ondas na proa, não teve ânimo de murmurar uma palavra. Viu passarem, como em sonho, as mil e uma promessas de Bom-Crioulo: o quartinho da Rua da Misericórdia no Rio de Janeiro, os teatros, os passeios...; lembrou-se do castigo que o negro sofrera por sua causa; mas não disse nada. Uma sensação de ventura infinita espalhava-se em todo o corpo. Começava a sentir no próprio sangue impulsos nunca experimentados, uma como vontade ingênita de ceder aos caprichos do negro, de abandonar-se-lhe para o que ele quisesse uma vaga distensão dos nervos, um prurido de passividade...
Ande logo! murmurou apressadamente, voltando-se.
E consumou-se o delito contra a natureza.»
Adolfo Caminha, Bom Crioulo (1895)


 


Bom-Crioulo conta a história de um escravo negro fugido, Amaro, apelidado de Bom-Crioulo, que ingressa como marinheiro na Marinha brasileira. A bordo do navio ele conhece um grumete branco de quinze anos, Aleixo, e mais tarde o seduz depois de passar por um castigo de chibata por causa dele. Quando o navio chega ao Rio, Bom-Crioulo aluga um quarto numa pensão na Rua da Misericórdia pertencente a uma amiga lavadeira portuguesa, Dona Carolina, onde ele e Aleixo passam juntos o tempo livre. Esta idílica situação acaba quando Bom-Crioulo é transferido para outro navio onde dificilmente pode obter licença para ir à terra. Deixado só, Aleixo, que já está cansado das carícias do seu amante masculino, é seduzido por Dona Carolina, que quer um jovem amante para reavivar a sua velhice enfraquecida. Aleixo começa a assumir uma mais assertiva masculinidade e esquece Bom-Crioulo. Entretanto, o cada vez mais desesperado Bom-Crioulo ausenta-se sem permissão do seu navio numa infrutífera tentativa de encontrar Aleixo. Embebeda-se, provoca uma briga com um estivador português e sofre um segundo castigo de chibata até perder a consciência, terminando confinado num hospital. Sem notícias de Aleixo, Bom-Crioulo fica cada vez mais consumido por uma mistura de amor, ódio e ciúmes. Finalmente, foge do hospital depois de saber que Aleixo arrumou uma namorada e se dirige para a Rua da Misericórdia, onde um comerciante lhe diz que Aleixo está vivendo com Dona Carolina. Nesse momento, Aleixo chega. Bom-Crioulo agarra-o e dá um golpe fatal em seu pescoço com uma navalha. O romance acaba com o assassino sendo levado sob escolta enquanto o povo se aglomera para ver o cadáver.


Raça e Sexualidade Transgressiva em Bom-Crioulo de Adolfo Caminha”, Robert Howes, Graphos - Revista da Pós-Graduação em Letras – UFPB, João Pessoa, Vol 7., N. 2/1, 2005 – p. 171-190



Análise da obra
O romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, faz parte do Realismo e do Naturalismo. A história de paixão e tragédia não é produto de fantasia romântica, mas baseada num fato real que escandalizou o Rio de Janeiro no século XIX.
Caminha constrói a partir de um fato verídico, uma ficção forte, ousada, muito atual até os dias de hoje. Fez isso para chocar e se vingar da sociedade hipócrita que o rodeava.
Bom-Crioulo, publicado em 1895, é dividido em 12 capítulos, onde a ação se passa na segunda metade do século XIX, no Rio de Janeiro. Destacam-se o espaço aberto, normalmente dias claros e quentes, o mar aberto, e o espaço fechado do quartinho de Amaro.
Boa parte da força e da eficácia de Bom-Crioulo está no manejo lúcido que o autor faz desses conflitos, escolhendo o quê, quando e como contar deste verdadeiro enredo de notícia de jornal sensacionalista. A narrativa é simples e direta, mas tem as suas manhas: não entrega o jogo facilmente, cria suspenses, vai e volta no tempo, de modo a dar a cada momento, a cada situação, a sua atualidade e a sua história, o seu desenvolvimento próprio. Assim, o enredo central se desdobra em alusões a muitas outras histórias; e o dia-a-dia do século XIX brasileiro se insinua a cada passo, fazendo ecoar as falas e as ações das personagens centrais.
A intenção do romance resume-se em acompanhar as personagens em seu movimento, como se fosse o expectador que registra a evolução do drama alheio sem interferir. Nele tudo caminha numa ordem inalterável até o epílogo, com uma supervalorização do instinto sobre os sentimentos, do animal sobre o racional.
Foco narrativo
Narrado em 3ª pessoa, por narrador onisciente, percebe-se que as inúmeras descrições que aparecem no romance, condizentes com a estética naturalista que privilegia a observação meticulosa dos fatos, buscam não se confundir com a história, nem com as personagens.
Preso aos ideais do escritor naturalista — exatidão na descrição, apelo à minúcia e culto ao fato — o narrador conta a história de modo linear, gradativo, utilizando-se de uma linguagem clara, direta, objetiva, com poucos objetivos. O que será importante são os fatos narrados e não a opinião que se pode ter sobre eles. Não há, portanto, da parte desse narrador, qualquer julgamento moral das personagens.
A história quase se narra por si, pela exposição direta dos fatos, que vão montando a estrutura narrativa, ou seja, a história das três personagens envolvidas num caso de amor: Amaro, Carolina e Aleixo.
Temática
O tema principal é a dificuldade do amor homossexual, centrado na relação entre o negro Amaro e o jovem e bonito Aleixo. Faz presente também o tema da mulher madura que deseja um amante jovem. A originalidade de Bom-Crioulo se manifesta no triângulo amoroso sobre o qual se sustenta. Tradicionalmente, um triângulo amoroso é composto por dois homens em luta por uma mulher, ou duas mulheres que disputam o mesmo homem. Em Bom-Crioulo, Amaro e Aleixo são marinheiros e, acima de tudo, como tal se comportam, favorecendo a anulação das diferenças étnicas, que se dá não pela ascensão do negro fugido, mas pelo rebaixamento de ambos à condição de prisioneiros do mesmo sistema e do “vício”. Por fim, o terceiro do triângulo é uma mulher que atua como homem, pois conquista Aleixo em vez de ser conquistada. Adolfo Caminha colhe ao vivo, de sua experiência como oficial da marinha, o material do romance.
Este tema do romance, o homossexualismo, manifesto na construção do triângulo amoroso, é tratado com crueza e sem nenhum indício de preconceito pelo escritor naturalista, que vê no vício um objeto de estudo que deve ser esclarecido e compreendido.
O homossexualismo, encarado no romance como vício ou perversão, é tratado, portanto, através de um olhar naturalista e, conseqüentemente, limitado: não há o enfoque mais subjetivo dos sentimentos despertados; não há autonomia do caráter: as personagens estão acorrentadas às leis deterministas (não há drama de consciência ou mesmo drama moral). Há uma resposta mecânica, instintiva aos fatos e, nesse sentido, o livro perde um lado da questão, o que não esmaece sua força e valor literário.
Outro tema é a problemática da vida dos marinheiros, que ficam a maior parte do tempo longe da terra e de mulheres, o sofrimento dos castigos corporais impiedosos e rigorosos. Este é a temática que se entrelaça com o tema central.
Tempo e espaço
O romance se passa em dois espaços: no mar, a bordo de uma corveta, e na Rua da Misericórdia, localizada nos subúrbios do Rio de Janeiro, nos fins do século XIX. Os dois lugares são descritos em seus aspectos mais degradantes e negativos, ressaltando a miséria daqueles que aí vivem.
A abertura do romance se faz com uma detalhada descrição da corveta, local inicial da ação.
Por meio de uma descrição minuciosa e da riqueza de detalhes que ajudam a compor o ambiente externo, percebe-se como o autor naturalista se debruça sobre o meio que terá um papel decisivo no comportamento das personagens.
O ambiente de bordo é marcado pelo trabalho duro e por uma vida sem privacidade, o que possibilita a eclosão das mais diversas perversões. O ajuntamento de homens favorecia a promiscuidade entre seres que vivenciam a solidão da reclusão da vida no mar e que, sobretudo, sentiam a falta de liberdade, vítimas de um sistema duro e cruel - a vida na Marinha:
Mas, havia ordem para não desembarcar, e Bom-Crioulo, como toda a guarnição, passou a tarde numa sensaboria, cabeceando de fadiga e sono, ocupado em pequenos trabalhos de asseio e manobras rudimentares. - Diabo de vida sem descanso! O tempo era pouco para um desgraçado cumprir todas as ordens. E não as cumprisse! Golilha com ele, quando não era logo metido em ferros... Ah! Vida, vida!... Escravo na fazenda, escravo a bordo, escravo em toda parte... E chamava-se a isso servir á Pátria!
Por esse trecho, pode-se notar uma crítica implícita a Abolição dos Escravos que parece não passar de uma ilusão, já que os homens provenientes das camadas mais baixas da população continuam a ser explorados.
Num segundo momento, a história se desloca para a terra, mais precisamente para um quarto na Rua da Misericórdia, onde Amaro e Aleixo, após terem se conhecido no navio, vivem o ápice e o declínio de seu relacionamento.
Ao retratar o espaço urbano, Adolfo Caminha fala a respeito de um tipo de moradia muito comum no Rio de Janeiro, durante o final do século XIX: as habitações coletivas. Os habitantes dessas moradias eram brancos, mulatos e mestiços, sempre pessoas exploradas. Ao redor dessas habitações, há a presença de negociantes portugueses em ascensão, como o açougueiro que sustenta D. Carolina, e que se aproveitam, de algum modo, da miséria dessas pessoas.
Desse modo, o comportamento das personagens está condicionado pela pobreza do ambiente que as circunda e que, por sua vez, é decorrente do momento histórico por que passava o Brasil, durante o Segundo Reinado.
Personagens
Em Bom-Crioulo, Caminha constrói com segurança e coerência o personagem Amaro, mulato dominado pela paixão homossexual, que o leva para caminhos sadomasoquistas à perversão e finalmente ao crime. O autor soube manejar as cenas e personagens com naturalidade.
As personagens de um romance naturalista raramente são dotadas de alguma profundidade psicológica. Muito próximas dos tipos, também chamados de personagens planas, não evoluem no decorrer da narrativa, de forma que suas ações apenas confirmam as poucas características que as definem.
Amaro: protagonista, ex-escravo convocado para a marinha.Trata-se de um homem muito forte, com trinta anos de idade e que não conseguiu realizar-se sexualmente com as mulheres. Duas tentativas deram-lhe grande decepção e o deixaram frustrado. Só conseguiu consumar o ato com o jovem Aleixo. Apresenta certa profundidade psicológica, mas que é totalmente envolvido por sentimentos e instintos que o dominam, impedindo-o de perceber com clareza a situação conflituosa que vive. Algumas vezes, surgem percepções esparsas, mas nada suficientemente forte para modificar o destino do negro, movido pela paixão. Por um lado, Amaro é extremamente forte fisicamente. Sua força provém do trabalho escravo e depois do trabalho na Armada, em que se engajara após ter fugido da fazenda. Os castigos físicos que lhe foram impingidos, tanto pelo feitor quanto a bordo, tornaram-lhe resistente e lhe deram a energia de um animal brioso. A força do negro é realçada pelo narrador, numa das cenas iniciais do romance, por meio da descrição de uma cena em que Amaro está sendo punido com a chibata: — Uma! cantou a mesma voz. — Duas!.., três!...
Aleixo: grumete, belo rapaz de olhos azuis, que embarca no sul. Tem quinze anos e mexe sexualmente com Amaro. Cede às investidas e caprichos do crioulo, mas quando aparece ocasião troca-o por uma mulher. Isso o leva ser assassinado por Amaro, por causa do ciúme. Aleixo surge desde o princípio como o oposto de Amaro: branco, fisicamente fraco e pueril, subjugado pelas circunstâncias e por quem lhe é mais forte — será assim com Amaro e com Carolina. O ar de submissão de Aleixo vai transfigurando-se, ao longo da narrativa, numa espécie de esperteza camaleônica. Nada sabemos sobre seu passado, a não ser que era filho de uma pobre família de pescadores que o tinham feito entrar para a Marinha em Santa Catarina. A ligação com Amaro oferece-lhe um novo mundo, bastante diferente daquele de sua origem, e que lhe propicia, acima de tudo, favores e proteção.
D. Carolina: amiga e rival de Amaro. É amiga de Amaro por tê-lo salvo em um assalto e inimiga por depois conquistar o namorado do crioulo. D. Carolina era uma portuguesa que alugava quartos na Rua da Misericórdia somente a pessoas de “certa ordem”, gente que não se fizesse de muito honrada e de muito boa, isso mesmo rapazes de confiança, bons inquilinos, patrícios, amigos velhos... Não fazia questão de cor e tampouco se importava com a classe ou profissão do sujeito, Marinheiro, soldado, embarcadiço, caixeiro de venda, tudo era a mesmíssima cousa: o tratamento que lhe fosse possível dar a um inquilino, dava-o do mesmo modo aos outros. D. Carolina revela-se, desde o inicio, uma mulher de negócios, cuja mercadoria era seu próprio corpo. Teve seus revezes e conseguiu se reerguer, observando como poderia lucrar com os outros, já que também lucravam com ela. No entanto, vive só.
Herculano: marinheiro dotado de certa melancolia. Relaxado, tinha as unhas sujas. Evitava a companhia dos outros. Foi preso e castigado por ter sido apanhado se masturbando.
Agostinho: o guardião. Homem de grande estatura, reforçado, especialista em dar chibatadas. Ama sua profissão, por isso permanecia a maior parte do tempo a bordo.
Santana: marinheiro que sofreu castigo por ter brigado com Herculano. Era gago, chorava com facilidade e era manhoso.
Enredo
A obra Bom-Crioulo não padece das inverosimilhanças de A Normalista, do mesmo autor. Mais denso e enxuto, apresenta um ótimo retrata da vida de marinheiros durante a 2ª metade do século XIX, no Rio de Janeiro. A personagem principal, o mulato Amaro, é bastante coerente em sua passionalidade. Vários episódios do romance também refletem a própria vivência do autor a bordo de navios, registrando a aspereza da vida no mar, da brutalidade dos castigos corporais, já denunciados por Caminha em seu tempo de estudante.
O romance realça pela originalidade da situação dramática: dois marinheiros - Amaro, apelidado o Bom-Crioulo, um “latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre... com um formidável Sistema de músculos” e Aleixo “um belo marinheiro de olhos azuis” - brutalizados e solitários pela vida a bordo de um navio, afeiçoam-se e entretêm relações homossexuais. Ao desembarcarem na cidade do Rio de Janeiro, vão viver em um cômodo alugado por uma portuguesa, ex-prostituta, D. Carolina. Mas o idílio amoroso entre Amaro e Aleixo é interrompido pelo dever de voltar ao mar:
Decorreu quase um ano sem que o fio tenaz dessa amizade misteriosa, cultivada no alto da Rua da Misericórdia, sofresse o mais leve abalo. Os dois marinheiros viviam um para o Outro: completavam-se /.../ Mas Bom-Crioulo um dia foi surpreendido com a notícia de que estava nomeado para servir noutro navio.
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/bom_crioulo







quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Este livro é gay





Este livro é gay trata de uma questão muito importante e, às vezes, de difícil abordagem entre professores, pais e jovens: a sexualidade. Com um texto muito claro e ilustrações engraçadas, o livro lembra um manual. O autor convida os leitores a refletir, de maneira honesta e sem preconceitos, sobre os desejos sexuais de cada um, defendendo, acima de tudo, o respeito às escolhas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

o menino reuniu as suas bonecas








COISINHAS PRECIOSAS PARA METER NO CU
                                                              para o pedro lamares

o menino reuniu as suas bonecas e
ralhou com elas. portaram-se mal quando
lhes pediu que fizessem silêncio na
hora de pôr a mesa. a cristiana e a barbie na neve
querem sempre ficar ao seu lado. mas
não pode ser. o menino ouve as
bonecas chorarem noite inteira. ouve-as
com uma angústia constante
crescendo pelo seu próprio peito. cuidadoso,
antes de adormecer, deita-lhes um pequeno
candeeiro aceso sobre os olhos de vidro e
recomenda-lhes todo o amor do mundo. o amor,
explica, é ser uno com o que está apartado

penteou uma a uma pacientemente. as suas
bonecas terão um domingo especial, agora que
lhes comprou um sofá vermelho, pequeno, à
medida dos seus corpinhos perfeitos. não há lugar
para todas, por isso, sabe que vai ter de as substituir
de meia em meia hora. estabelece as regras
pormenorizadamente. anuncia, a partir de hoje
a nossa casa está mais bonita, e esta beleza
deve contribuir para os nossos corações. quero que
os nossos corações se ponham de
festa, quero que exista senão alegria

o menino observou o sofá vermelho intenso, apreciou
como era incrível ali estendido o vestido da
elizabete, feito de tule muito branco
com um corpete de veludo dourado

o pai bate-lhe ao fim da tarde. chega a
casa cansado e não diz nada. e, sem dizer nada,
arranca-o do quarto de brincar e obriga-o a
ficar na cama. pela janela, vê o fim
da tarde a entristecer as casas, e fica à espera da mãe
como se pudesse o sol chegar de novo àquela hora.
e a mãe chega, fecha-se na sala a discutir com o
pai. o menino tira de sob a almofada o ken. gosta do
ken. tem quatro diferentes. o polícia é o seu
preferido. sonha sempre que, um dia, virá prender o
pai levando-o para longe para espancá-lo sem
piedade. um pouco depois, a mãe estende os seus
raios por toda a parte. de tão brilhante, o menino
fecha os olhos ofuscados e abraça-se a ela a ver
só por dentro

o joaquim não gosta do ken. o menino disse que
lho deixava para assumir a barbie na
neve. mas ele nem assim aceitou. o menino
não o obrigaria a ser a barbie. e não se importa
nada de fazer esse papel. mas o joaquim
não quis mesmo. passou com o seu tractor em cima do
boneco e foi-se embora. o menino
ficou zangado. mas os melhores amigos, diz a mãe,
também se zangam. por isso, ficou à espera que
ele viesse falar consigo. eu posso
brincar com a bicicleta, dizia, podemos ir lá baixo
até ao mosteiro a ver as campas antigas de pedra. depois,
pensava, talvez ele aceite ser o ken. o ken polícia,
que deixou no sofá vermelho para que se
anime, porque não se passa assim com um
tractor por cima da autoridade. o papá
deixa-te ficar no sofá a tarde inteira. tirou a
elizabete e pô-lo ali sentado, subitamente mais feliz

o pai afastou a mãe da frente e
voltou a puxá-lo. sempre que o faz
marca-lhe os braços com as mãos
apertadas sobre pele como aguilhões. o menino
estendeu-lhe o ken e disse entre dentes, estás preso e
és um filho da puta. mas ele não parou de
lhe bater, por mais que repetisse a ordem de
prisão, por mais que visse o ken fardado,
tão furiosos os dois

a mãe ficou a ver-lhe o rabo inchar à força do
sapato. o pai pensava que
as bonecas da mariana não podiam ser de
outra pessoa. a mãe sentou-se, depois, no sofá e
tomou o menino ao colo. então, o menino chorou e
espremeu contra o peito o homem aranha que
lhe fez uma teia de protecção

outro dia, o pai pegou fogo ao quarto de brincar.
não avisou. disse, no fim, vai ver o que sobrou das tuas
coisinhas de meter no cu. o menino não foi ver. morreu.
tombou no chão e morreu

no dia seguinte, ele era outra pessoa. viu tudo e
todos com novos nomes e deixou de brincar com
bonecas. compreendeu a diferença entre
as pessoas e os brinquedos mudos. procurou o
joaquim, sorriu como nunca, e foi com ele ver as
campas de pedra antigas
com o prazer inaudito de, certo modo, também já estar
sepultado






Valter Hugo Mãe

Pornografia erudita valter hugo mãe nu